Durante o city tour na ilha de San Andrés e Providência, pertencente ao Caribe, o guia falou algo, no mínimo, inusitado. Para os habitantes, quando se completam 12 anos, seus pais dizem onde você vai ser enterrado. Olhei pela janela para a casa de um dos moradores e vi túmulos floridos e coloridos nos quintais.
Aos 12 anos, eu desenvolvi Transtorno Obsessivo-Compulsivo, que viria a ser um divisor de águas na minha vida.
Fui incompreendida. Não entendia a lógica e o raciocínio cruel da doença.
Só mais tarde, aos 22 anos, fui ver como tinha me feito mal.
Vi pessoas dizendo, em minha jornada: “não diga que tem depressão ou isso ou aquilo”.
Ou seja, estavam querendo me convencer de que eu tinha que ser perfeita. E querendo me convencer de que eram perfeitas também.
O psiquiatra Flávio Gikovate dizia que, quando mostramos fraquezas, alguns iriam nos apoiar, outros usá-las contra nós.
Olho para esse mar azul-turquesa e penso: nada mal ser enterrada aqui.
Se desumanizar também é uma maneira de se enterrar, pouco a pouco.
Determinar uma pessoa por um transtorno, um erro ou um episódio.
Determinar onde ela vai ser enterrada.
É isso que a doença parece fazer com você.
Por isso a Psicologia bate tanto na tecla: você é mais do que a doença.
Por um minuto, pensei: por que não pude pular a adolescência? Meu superpoder é pacificar a mente.
Achar bom o suficiente. Se bastar. Se cuidar.
Vivemos outros tempos. Hoje em dia, fala-se abertamente de saúde mental. Campanhas como Janeiro Branco, psicofobia e bullying viraram crime.
Mas, até isso acontecer… o determinismo preconceituoso enterrou a esperança e a lucidez de muitos jovens. Alguns ainda estão no quintal dos pais, ou os pais os veem como quase mortos.
A conta de tanto preconceito e desinformação chegou.
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