O Brasil comemora nesta sexta-feira (21) os 80 anos do feito mais emblemático de sua história militar: a tomada do Monte Castelo, em território italiano, na reta final da Segunda Guerra Mundial.
A conquista liderada pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) não marcou apenas a participação do país como uma peça importante na vitória dos aliados contra o Eixo formado por Alemanha, Itália e Japão. Também revelou a bravura e o humanismo de soldados que enfrentaram adversidades extremas em uma terra distante, fria e desconhecida.
Mais do que um grupo de combate, a FEB encarnou ideais de solidariedade, fé, integração, estratégia e até de transformação política. Veja a seguir cinco razões que explicam por que sua atuação deve ser celebrada.
Localizado na cordilheira dos Apeninos, o Monte Castelo era um ponto estratégico da chamada Linha Gótica, a última defesa nazista na região (com centenas de bunkers e campos minados). Sua posição elevada permitia aos alemães evitar o avanço aliado rumo a Bolonha — cidade-chave por ser um importante centro de comunicações.
Após três tentativas fracassadas de tomada (incluindo operações em conjunto com tropas americanas), os combatentes brasileiros assumiram a liderança do quarto e derradeiro ataque, em 21 de fevereiro de 1945. Por meio de táticas de flanco, e com um forte apoio da artilharia, os pracinhas conseguiram abrir caminho para a captura de Bolonha, acelerando a rendição dos soldados de Hitler na Itália.
Essa conquista foi a prova definitiva de que, mesmo com recursos limitados e um tempo de treinamento curto, os brasileiros fizeram uma contribuição para o curso da guerra. Único país sul-americano a enviar tropas para a Europa, o Brasil ainda consolidou alianças internacionais (especialmente com os EUA) e reforçou sua posição geopolítica após o conflito.
Chegada da Força Expedicionária Brasileira na Itália, em 1944. (Foto: Divulgação/Agência Nacional)
Os brasileiros também se destacaram por sua humanidade em meio aos horrores da guerra. Começando pelos laços emocionais que formaram com os habitantes das comunidades pelas quais passaram. A ponto de idosas italianas chamarem os pracinhas de figli miei (“meus filhos”), devido ao carinho e atenção despendidos por eles durante a campanha.
Mas há também registros de gestos concretos, que aliviaram o sofrimento de muitos italianos e criaram uma relação de respeito que perdura ainda hoje. Como o costume de dividir suas rações com famílias famintas e a colaboração fundamental na reconstrução de escolas e pontes.
Essa interação solidária se estendeu inclusive aos soldados do Eixo capturados. Segundo relatos, os combatentes da FEB muitas vezes chegaram a cuidar de feridos do lado inimigo, até que recebessem atendimento médico adequado.
Um espírito religioso marcou a trajetória dos pracinhas em sua jornada pela Itália — e os aproximou da população local, em sua maioria católica.
Muitos deles carregavam medalhas, crucifixos, terços e imagens de santos para buscar forças ao longo da campanha. Além disso, os próprios soldados organizavam cultos e missas improvisadas, celebradas por capelães em pleno front. Mas o ato de rezar junto não apenas conferia esperança naquele de ambiente de caos — era uma forma de reforçar a unidade e o moral da tropa.
A forte dimensão espiritual da FEB pôde ser comprovada também após a guerra, quando muitos militares sobreviventes, bem como suas famílias, cumpriram promessas em suas cidades de origem em todo Brasil.
Militares da FEB durante momento de trégua do combate. (Foto: Divulgação/Agência Nacional)
Enquanto países como os EUA e o Reino Unido mantinham divisões segregadas, os pracinhas formavam um exército diverso, com brancos, negros, mestiços e índios.
Essa mistura frequentemente era destacada por veículos de imprensa estrangeiros. Como o jornal militar americano Star and Stripes, que definiu nossos soldados como “tão miscigenados quanto a própria terra de onde vinham”.
Mas o que parecia “exótico” aos olhos internacionais, para os brasileiros era apenas o retrato da nação — e mais uma prova do caráter humanista da FEB, que conseguiu desenvolver valores como fraternidade e companheirismo mesmo entre homens de origens diferentes.
Um aspecto pouco comentado sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra é o seu efeito político e simbólico no próprio país. Segundo historiadores, a vitória contra o nazismo e o fascismo estimulou muitos brasileiros a olharem de forma diferente para o regime autoritário comandando por Getúlio Vargas.
Graças à troca de experiências com combatentes de outras nações aliadas, os pracinhas absorveram e trouxeram ideias sobre democracia e liberdade. Muitos desses conceitos apareciam nas páginas do E a Cobra Fumou!, jornal independente produzido pelos próprios soldados — e que trazia, entre outras críticas ao Estado Novo, questionamentos quanto à censura imposta pelo governo.
Com receio de que a FEB se tornasse um ícone antiautoritário, Getúlio Vargas desfez a força. Para os especialistas, essa postura de Vargas foi crucial para o abandono de muitos veteranos no pós-guerra e a falta de reconhecimento dos pracinhas, que persiste ainda nos dias de hoje.
Oficiais e soldados brasileiros estudam o plano de campanha da FEB. (Foto: Divulgação/Agência Nacional)
Materia original no site Gazeta do Povo confira no link: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/monte-castelo-80-anos-cinco-razoes-para-celebrar-a-participacao-do-brasil-na-segunda-guerra/#success=true
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