Um dos episódios mais graves já registrados contra a advocacia maranhense ganhou repercussão em Timon. Três advogados - Jonas José Rocha Rodrigues, Maysa Chrislayne de Assis Sousa Silva e Liliana Silva Rodrigues de Souza - foram tornados réus por organização criminosa pelo juiz Raul José Duarte Goulart Júnior, da Vara Especial Colegiada dos Crimes Organizados. Segundo as investigações do GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas), eles usavam a prerrogativa profissional para servir à facção Bonde dos 40, que domina áreas do Maranhão e do Piauí.
A denúncia é resultado da Operação Mercúrio, deflagrada em dezembro de 2024. Segundo o Ministério Público, os advogados desempenhavam funções estratégicas para a facção dentro da Unidade Prisional de Ressocialização de Timon (UPTIM), levando drogas para os internos e gerenciando cobranças do tráfico.
De acordo com a acusação, o advogado Jonas José Rocha Rodrigues foi flagrado, em duas ocasiões distintas, entrando na unidade prisional com drogas escondidas nos sapatos. Dentro da sala da OAB no presídio, ele repassava os entorpecentes para detentos, que engoliam as substâncias para tentar driblar a fiscalização. Além disso, foram encontradas cartas no celular do advogado, tratando do transporte de drogas, da venda e da cobrança de dívidas em benefício do Bonde dos 40.
As investigações apontam que Jonas não agia sozinho. As cartas também eram enviadas para a advogada Maysa Chrislayne, descrita na denúncia como responsável pela cobrança das dívidas dos detentos com a facção. Já Liliana Silva Rodrigues foi presa em flagrante, no dia 9 de julho de 2024, com seis trouxinhas de maconha e cocaína escondidas nos sapatos quando tentava visitar dois presos da facção.
Para o GAECO, os três causídicos eram peças do mecanismo do Bonde dos 40 dentro do sistema prisional de Timon: transportavam drogas, gerenciavam finanças do tráfico, faziam a ponte entre líderes encarcerados e a rua, e ainda cobravam dívidas de usuários e rivais. Essa atuação facilitava a continuidade dos negócios da facção dentro e fora das grades.
A advogada Liliana está presa desde o flagrante, em julho de 2024. Já Jonas e Maysa respondem em liberdade, mas agora como réus formais na Justiça.
A seccional maranhense da OAB, até o momento, não divulgou oficialmente nenhuma providência disciplinar contra os três advogados. No entanto, pela gravidade dos fatos e por atingirem diretamente a credibilidade da profissão, espera-se que processos ético-disciplinares sejam abertos no Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem, que poderá resultar na suspensão ou exclusão dos envolvidos.
O caso evidencia um duro golpe contra a ética da advocacia. Profissionais que deveriam zelar pelo direito e pela Justiça são acusados de agir como instrumentos de uma das maiores facções criminosas do Nordeste. A sociedade espera que o Judiciário cumpra seu papel, mas também que a OAB dê exemplo e não tolere que a toga seja usada como manto para a criminalidade.
Trair a confiança pública, manchando o juramento feito ao ingressar na Ordem, é ferir de morte a própria advocacia. Para advogados que confundem direitos com privilégios, e prerrogativas com impunidade, a resposta precisa ser rápida e firme.
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