O velho ditado “peixe morre pela boca” nunca fez tanto sentido quanto agora para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em mais uma de suas falas improvisadas, Lula revelou que pediu “muita cautela” à Polícia Federal e à Controladoria-Geral da União nas investigações que apuram um consórcio criminoso instalado dentro do INSS, órgão vinculado ao Ministério da Previdência. A confissão, longe de ser inofensiva, caiu como uma bomba política e jurídica - e pode custar caro.
A declaração gerou indignação imediata e foi parar nas mãos da Procuradoria-Geral da República (PGR). O deputado federal Evair de Melo (PP/ES) apresentou denúncia formal contra o presidente, acusando-o de interferência indevida e tentativa de obstrução institucional. Para ele, não se trata de prudência, mas de conluio político: “Lula não pratica a virtude da cautela, mas o vício da proteção”, dispara o parlamentar.
Na fala pública, Lula sugeriu que os órgãos de controle deveriam agir com cautela ao investigar os sindicatos e entidades suspeitas de envolvimento no esquema de corrupção que desviou bilhões de reais dos aposentados brasileiros. A frase desperta uma série de questionamentos:
- Desde quando o presidente da República pode ditar o tom ou o ritmo das investigações da PF?
- Essa “cautela” não seria, na prática, uma tentativa de proteger aliados?
Evair de Melo não tem dúvidas. Ele aponta a existência de um conflito de interesses, sobretudo por um detalhe incômodo: o irmão de Lula, Frei Chico, é dirigente a um dos sindicatos investigados. A denúncia sugere que a fala presidencial não foi um deslize retórico, mas sim uma manobra calculada para blindar sindicatos e entidades próximas ao governo.
A acusação reacende críticas que já vinham sendo feitas nos bastidores de Brasília: a de que a Polícia Federal, sob o atual governo, atua de forma politicamente seletiva. Ainda em 2023, o então ministro da Justiça Flávio Dino chegou a afirmar que “a Polícia Federal estaria a serviço da causa de Lula”, uma frase que agora volta à tona como evidência de um padrão de interferência.
A Procuradoria-Geral da República afirmou que irá “analisar” o caso, o que, na prática, pode tanto resultar em uma investigação formal quanto cair no limbo das denúncias arquivadas. No entanto, a pressão política aumenta, principalmente com a proximidade das eleições de 2026 e a crescente mobilização da oposição em torno do escândalo no INSS.
Lula, mais uma vez, transforma um comentário impulsivo em crise institucional, reforçando a imagem de um presidente que fala mais do que deveria - e, muitas vezes, diz o que não pode. E pensar que um dia, o STF, na pessoa do ministro Alexandre de Moraes, proibiu um presidente da República de indicar um nome de sua preferência para a direção-geral da Polícia Federal, mesmo sendo essa uma prerrogativa do chefe de Estado.
Seja ingenuidade ou cálculo político, o fato é que a frase “pedi cautela à PF” pode se tornar mais um tijolo no muro de desconfiança que se ergue em torno do Planalto quando o assunto é combate à corrupção. E neste caso, quem paga a conta são os aposentados - e o Estado de Direito.
Mín. 22° Máx. 34°