Na calada da noite de terça-feira, 3 de junho, o imponente Airbus A340 da República Islâmica do Irã pousou em Brasília. O avião, de matrícula EP-IGA, partiu de Teerã, fez escalas em Caracas e Havana, e desembarcou no Brasil sem alarde. Nada mal para um país que vive sob vigilância internacional constante e tem suas aeronaves monitoradas como peças estratégicas em tabuleiros geopolíticos tensos.
O que mais intriga, porém, não é a chegada em si - mas o silêncio ensurdecedor que a acompanha. Nenhuma nota da embaixada iraniana. Nenhuma explicação do Itamaraty. Apenas o dado frio: o avião está aqui. Veio supostamente para o Fórum Parlamentar dos BRICS, que acontece de 3 a 5 de junho em Brasília. Um evento que reúne cerca de 150 parlamentares de países como China, Rússia, Irã, Índia, África do Sul e outros convidados como Cuba e Belarus.
A versão oficial - quando é dada - sugere que a aeronave transporta delegações iranianas para o encontro multilateral. Mas não há confirmação pública da lista de passageiros. Tampouco há registros sobre a carga, protocolos diplomáticos, ou qualquer detalhamento que satisfaça uma opinião pública cada vez mais desconfiada. E há razões para isso.
A escala do avião em dois regimes alinhados com Teerã - Venezuela e Cuba - acendeu o sinal de alerta entre analistas de defesa e relações exteriores. São países que, assim como o Irã, integram uma espécie de “eixo de resistência” aos interesses ocidentais, com históricos de operações logísticas obscuras, sanções internacionais e parcerias estratégicas fora dos holofotes da imprensa.
Mais uma vez, a falta de transparência alimenta teorias. Estaria o Irã utilizando o espaço diplomático para movimentar itens sensíveis, dados estratégicos ou figuras políticas de interesse? O avião trouxe apenas uma delegação oficial - ou algo mais? Que tipo de acordos, conversas ou alinhamentos subterrâneos estão sendo feitos nos bastidores do Fórum dos BRICS?
Essa é a segunda vez, em menos de dois meses, que o A340 iraniano aparece em solo brasileiro. E não está sozinho. Um raro jato russo, ligado à agência espacial da Rússia, também chegou a Brasília recentemente. Coincidência? Ou parte de um jogo maior, em que o Brasil entra como anfitrião passivo de articulações que escapam ao controle da democracia?
Em um momento em que os BRICS tentam se reinventar como contrapeso ao poder ocidental, o pouso desse avião pode não ser apenas um detalhe logístico. Pode ser um sintoma de que algo mais profundo está em curso - algo que o público brasileiro tem o direito de saber.
Transparência, afinal, é pré-requisito mínimo para uma diplomacia soberana. O que está voando por cima de nossas cabeças não pode ser tratado como um segredo de Estado.
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