Contra fatos não há argumentos. O povo brasileiro está mais politizado, mais atento e menos propenso a cair em narrativas que tentam esconder a responsabilidade do governo por falhas graves na administração pública. Um exemplo emblemático é o escândalo bilionário no INSS, onde um consórcio criminoso instalado dentro do próprio Ministério da Previdência Social fraudou benefícios e roubou valores de mais de 9 milhões de aposentados e pensionistas, principalmente viúvas e idosos em situação de vulnerabilidade.
Trata-se de uma das maiores fraudes da história da República, e os brasileiros já têm opinião formada sobre o caso. Segundo a pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (4), 31% da população enxerga o governo Lula como o principal responsável pelo escândalo. O resultado é um duro golpe na tentativa do presidente de se eximir da culpa e atribuí-la ao passado ou às instituições.
Apesar de integrantes do governo e parlamentares da base petista tentarem culpar a gestão anterior - comandada por Jair Bolsonaro -, apenas 8% dos entrevistados acreditam que o governo anterior seja o maior responsável. Em contraste, 14% atribuem culpa ao próprio INSS, o que reforça a percepção de que o problema está instalado nas entranhas do atual governo, que deveria ter fiscalizado e evitado a operação criminosa.
Outros 8% culpam diretamente as entidades fraudulentas que falsificaram assinaturas dos aposentados para aplicar os descontos indevidos, enquanto 1% responsabiliza os próprios beneficiários por não conferirem seus extratos. Um total de 12% escolheu a opção “outros”.
O levantamento entrevistou 2.004 pessoas em 120 municípios, entre os dias 29 de maio e 1º de junho, e expressa o sentimento nacional de frustração diante da omissão e da falta de controle do governo federal sobre o sistema previdenciário.
Enquanto o governo petista hesita e adota o silêncio como estratégia, a oposição explora o caso como um exemplo do descontrole administrativo da atual gestão. Um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL/MG) sobre o escândalo alcançou mais de 137 milhões de visualizações, refletindo o engajamento da população com o tema e a força da denúncia.
Em resposta, deputados como André Janones (Avante/MG) tentaram reverter a situação, acusando a gestão anterior e apelando à militância, mas sem sucesso de repercussão significativa.
Somente nesta semana, pressionado pela opinião pública, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se pronunciou diretamente sobre o tema. E ainda assim, de forma tímida. Na coletiva de imprensa da última terça-feira (3), o presidente quase se esqueceu do assunto e, ao mencioná-lo, minimizou a gravidade do escândalo ao dizer:
“A gente poderia ter feito um show de pirotecnia, como sempre se faz nesse país...”
A fala foi considerada por muitos como insensível diante da dor e da indignação de milhões de brasileiros que se sentiram lesados. Para analistas, a lentidão e a superficialidade na reação oficial só agravaram o desgaste da imagem do governo.
Este caso representa um divisor de águas na relação entre a população e o discurso político. O brasileiro médio está menos disposto a aceitar explicações genéricas ou acusações ao “governo anterior” como desculpa. A percepção geral é clara: quem está no poder é responsável pelo funcionamento da máquina pública, e quando essa máquina é usada para roubar os mais pobres, há um preço político a ser pago.
O escândalo do INSS deixa uma marca profunda não só nos cofres públicos, mas na confiança do cidadão comum. E o recado da pesquisa é inequívoco: a maioria não se deixou enganar. O povo sabe quem está no comando - e cobra por isso.
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