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Política ENDIVIDAMENTO

Governo Rafael Fonteles soma R$ 18 bilhões em empréstimos e Assembleia aprova mais R$ 11 bi

Endividamento crescente do Piauí levanta questionamentos sobre transparência, prioridades e uso político dos recursos públicos

13/05/2025 às 15h38 Atualizada em 13/05/2025 às 18h25
Por: Douglas Ferreira
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Deputado Bessah Filho é um dos poucos a criticar o endividamento do Piauí na Alepi - Foto: Reprodução
Deputado Bessah Filho é um dos poucos a criticar o endividamento do Piauí na Alepi - Foto: Reprodução

O Governo do Estado do Piauí, sob a gestão do governador Rafael Fonteles (PT), já acumula cerca de R$ 18 bilhões em empréstimos contratados desde o início do mandato em 2023. Agora, em maio de 2025, a Assembleia Legislativa do Estado do Piauí (Alepi) aprovou, por meio da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mais cinco projetos de lei que autorizam o Executivo a contratar R$ 11 bilhões em novos empréstimos com instituições financeiras nacionais e internacionais.

Com a aprovação, os projetos seguem para a Comissão de Finanças da Alepi. Na sessão da CCJ realizada nesta terça-feira (13), apenas os deputados Bessah Filho e Gustavo Neiva (ambos do Progressistas) votaram contra os projetos. Bessah chegou a propor a destinação de parte dos recursos para o combate à seca no semiárido piauiense, mas a sugestão foi rejeitada pela maioria governista.

“Infelizmente, o Governo não se sensibilizou com a realidade do nosso povo. Só neste governo, já são cerca de R$ 18 bilhões em dívidas. Dava para fazer 12 transposições do São Francisco para os rios Piauí e Canindé”, criticou Bessah Filho.

Os recursos, segundo o governo, seriam investidos em obras de mobilidade urbana, saúde, educação, segurança pública e transformação digital, além de refinanciamento de dívidas antigas com condições menos vantajosas. Os empréstimos foram solicitados ao Banco do Brasil e ao Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), com garantias da União.

Por outro lado, o deputado estadual Fábio Novo (PT), que presidiu a sessão da CCJ, defendeu os projetos. Segundo ele, os recursos “vão aproximar o governo das pessoas, investindo em tecnologia, telemedicina e digitalização de serviços públicos”.

Endividamento recorrente

Desde que assumiu o cargo, Rafael Fonteles já articulou dezenas de operações de crédito junto a bancos nacionais e internacionais. Somente em 2024, foram contratados:

  • R$ 2,5 bilhões com o Banco do Brasil, em dezembro.

  • € 39 milhões (R$ 250 milhões) com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), para o projeto "Piauí Verde e Sustentável".

  • US$ 50 milhões (R$ 274 milhões) autorizados pelo Senado para regularização fundiária.

  • R$ 150 milhões junto ao BNDES.

  • R$ 100 milhões com a Caixa Econômica Federal.

  • R$ 2 bilhões em abril com o Banco do Brasil, destinados a obras em 224 municípios.

Essas operações somam-se a outros empréstimos contratados em 2023, como:

  • US$ 50 milhões (R$ 244 milhões) com o BIRD para o Programa Pró-Gestão.

  • R$ 2 bilhões com o Banco do Brasil, para infraestrutura e urbanização.

  • US$ 118 milhões (R$ 600 milhões) para o Projeto Piauí Sustentável e Inclusivo.

  • R$ 2 bilhões em março de 2023, também com o Banco do Brasil.

Para onde vai o dinheiro?

Apesar das justificativas oficiais focarem em investimentos estruturantes e sociais, a falta de transparência na execução orçamentária, aliada ao histórico de obras inacabadas, superfaturamento e uso político de recursos públicos em gestões anteriores, gera preocupação. Muitos opositores e analistas políticos temem que a nova leva de recursos seja usada para fomentar projetos com fins eleitoreiros, em um momento pré-eleitoral, com eleições gerais marcadas para outubro de 2026.

A principal crítica é quanto à priorização de recursos: ao invés de destinar verba para áreas crônicas como seca, segurança e saúde pública, o governo opta por programas amplos e genéricos, cuja execução é difícil de mensurar e fiscalizar.

Quem fiscaliza?

Outro ponto sensível é a fragilidade dos mecanismos de controle externo. Com uma Assembleia Legislativa de ampla maioria governista e órgãos de controle com estrutura limitada, a população teme que os recursos se percam no rastro de promessas e discursos. Como resume um trecho crítico que circula nos bastidores políticos: “Com obra ou sem obra, com desvio ou sem desvio, quem paga a conta é o povo”.

Considerações finais

Enquanto a propaganda institucional fala em “Estado digital”, “desenvolvimento sustentável” e “avanço social”, a realidade nas ruas aponta deficiências graves nos serviços essenciais, principalmente nas regiões mais pobres do interior. A esperança depositada no “gênio da matemática” com MBA em Harvard parece diluir-se em meio a números bilionários de endividamento e a repetição de velhos vícios da política piauiense.

O futuro dirá se o Piauí está caminhando para a modernização ou apenas empilhando dívidas para as próximas gerações pagarem - com juros e correção.

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DonHá 1 mês Teresina-PI Piauí com estes empréstimos promove ainda mais o empobrecimento da população,já a msis pobre do Brasil. Impostos altos e falta de capacidade administrativa já é uma piada pronta
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