Milhões de aposentados e pensionistas do INSS foram vítimas de descontos indevidos em folha, sem jamais terem solicitado empréstimos ou filiação a qualquer entidade. A fraude funcionava como um consórcio criminoso, com participação de sindicatos de fachada, empresas de crédito e até servidores do INSS.
Segundo apuração do portal Metrópoles, entidades envolvidas no esquema pagaram ao menos R$ 110 milhões a empresas de crédito consignado. O valor total desviado pode ultrapassar R$ 6,3 bilhões, conforme investigação da Polícia Federal, que levou à queda do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.
Associações suspeitas fraudavam filiações de segurados, vinculando-as a empréstimos consignados. Elas recebiam um percentual da mensalidade de cada novo “associado” - normalmente um idoso enganado - e repassavam parte do lucro a empresas de crédito que intermediavam o golpe.
100% da primeira mensalidade era repassada às empresas.
A partir da segunda, as empresas recebiam 21% dos valores mensais.
9 milhões de aposentados sofreram descontos indevidos.
Entre janeiro e outubro de 2023, 482 mil novas filiações ocorreram próximas à data de novos empréstimos.
Os descontos com mensalidades associativas triplicaram no último ano, chegando a R$ 2 bilhões.
Um dos núcleos mais lucrativos era o da Amar Brasil Clube de Benefícios, presidida por Américo Monte. A entidade repassou:
R$ 25 milhões para empresa de seu filho, Américo Monte Jr.
R$ 54 milhões a outras empresas do mesmo grupo familiar.
A neta de Monte chegou a ser mencionada em denúncia como instrutora de como falsificar assinaturas.
Outras entidades como Ambec, Unsbras e Cebap também estão sob suspeita, com vínculos ao empresário Maurício Camisotti. Parentes e até funcionários de suas empresas - como uma faxineira - figuram como dirigentes de associações.
Deflagrada pela Polícia Federal em abril de 2024, a operação investiga lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e organização criminosa. Foram identificadas planilhas, contratos e quebras de sigilo que ligam diretamente associações aos operadores dos consignados.
O governo Lula foi amplamente criticado por manter e expandir contratos com essas entidades. Uma das associações ligadas ao escândalo teve como representante Francisco Ferreira da Silva, o “Frei Chico”, irmão do presidente. Até agora, ele não foi investigado, o que levanta questionamentos sobre blindagem política.
O novo presidente do INSS bloqueou temporariamente novos descontos.
O TCU e a CGU acompanham a investigação.
Um plano de ressarcimento foi anunciado, e 9 milhões de beneficiários serão notificados.
Fica a pergunta: por que empresas e sindicatos envolvidos ainda não foram obrigados a devolver o dinheiro? Por que parentes de políticos, inclusive Frei Chico, continuam fora do alcance da Justiça? A sociedade espera respostas - e justiça.
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