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Política GATUNAGEM NO INSS

Fraude bilionária no INSS: Associações, consignados e o saque organizado contra aposentados

Uma rede criminosa infiltrada no sistema previdenciário desviou bilhões de aposentados e viúvas, com apoio de sindicatos, empresas de crédito e servidores públicos - e silêncio sobre o envolvimento de parentes do presidente

11/05/2025 às 15h17
Por: Douglas Ferreira
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O maior escândalo da história da República ocorreu no coração do Ministério da Previdência Social, o INSS - Foto: Reprodução
O maior escândalo da história da República ocorreu no coração do Ministério da Previdência Social, o INSS - Foto: Reprodução

A vítima: o aposentado brasileiro

Milhões de aposentados e pensionistas do INSS foram vítimas de descontos indevidos em folha, sem jamais terem solicitado empréstimos ou filiação a qualquer entidade. A fraude funcionava como um consórcio criminoso, com participação de sindicatos de fachada, empresas de crédito e até servidores do INSS.

A fábrica de dinheiro

Segundo apuração do portal Metrópoles, entidades envolvidas no esquema pagaram ao menos R$ 110 milhões a empresas de crédito consignado. O valor total desviado pode ultrapassar R$ 6,3 bilhões, conforme investigação da Polícia Federal, que levou à queda do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.

Como funcionava o esquema

Associações suspeitas fraudavam filiações de segurados, vinculando-as a empréstimos consignados. Elas recebiam um percentual da mensalidade de cada novo “associado” - normalmente um idoso enganado - e repassavam parte do lucro a empresas de crédito que intermediavam o golpe.

  • 100% da primeira mensalidade era repassada às empresas.

  • A partir da segunda, as empresas recebiam 21% dos valores mensais.

Os números da fraude

  • 9 milhões de aposentados sofreram descontos indevidos.

  • Entre janeiro e outubro de 2023, 482 mil novas filiações ocorreram próximas à data de novos empréstimos.

  • Os descontos com mensalidades associativas triplicaram no último ano, chegando a R$ 2 bilhões.

A teia familiar e empresarial

Um dos núcleos mais lucrativos era o da Amar Brasil Clube de Benefícios, presidida por Américo Monte. A entidade repassou:

  • R$ 25 milhões para empresa de seu filho, Américo Monte Jr.

  • R$ 54 milhões a outras empresas do mesmo grupo familiar.

  • A neta de Monte chegou a ser mencionada em denúncia como instrutora de como falsificar assinaturas.

Outras entidades como Ambec, Unsbras e Cebap também estão sob suspeita, com vínculos ao empresário Maurício Camisotti. Parentes e até funcionários de suas empresas - como uma faxineira - figuram como dirigentes de associações.

A Operação sem Desconto

Deflagrada pela Polícia Federal em abril de 2024, a operação investiga lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e organização criminosa. Foram identificadas planilhas, contratos e quebras de sigilo que ligam diretamente associações aos operadores dos consignados.

A responsabilidade do governo

O governo Lula foi amplamente criticado por manter e expandir contratos com essas entidades. Uma das associações ligadas ao escândalo teve como representante Francisco Ferreira da Silva, o “Frei Chico”, irmão do presidente. Até agora, ele não foi investigado, o que levanta questionamentos sobre blindagem política.

O que está sendo feito

  • O novo presidente do INSS bloqueou temporariamente novos descontos.

  • O TCU e a CGU acompanham a investigação.

  • Um plano de ressarcimento foi anunciado, e 9 milhões de beneficiários serão notificados.

E agora?

Fica a pergunta: por que empresas e sindicatos envolvidos ainda não foram obrigados a devolver o dinheiro? Por que parentes de políticos, inclusive Frei Chico, continuam fora do alcance da Justiça? A sociedade espera respostas - e justiça.

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