A política parnaibana vive dias de intensa movimentação nos bastidores. A possível migração da deputada estadual Gracinha Moraes Sousa - de ícone oposicionista ao PT para aliada do Palácio de Karnak - revela não apenas a complexidade do jogo político local, mas também os riscos de uma guinada tão brusca num cenário profundamente enraizado em discursos polarizados.
Gracinha Moraes Sousa, filha do ex-prefeito e ex-senador Mão Santa, sempre se consolidou como um nome forte da direita em Parnaíba, sustentada por um discurso duro contra o PT e as pautas da esquerda. Não por acaso, a sua possível entrada no governo Rafael Fonteles soa como uma ruptura ideológica profunda - para muitos, quase uma traição política.
Mas o movimento, ao que tudo indica, está sendo cuidadosamente orquestrado para não ferir sensibilidades internas. Gracinha deverá ingressar no governo pela porta do MDB, partido de centro, sob a articulação do deputado João Madison. O objetivo? Criar um "amortecedor político" para evitar que o choque com a base histórica bolsonarista da deputada se transforme em desgaste irreversível.
A dúvida que ronda Parnaíba é se Gracinha rompeu com o prefeito Francisco Emanuel Cunha de Brito - o "Novo Francisco" - para viabilizar a entrada no Karnak, ou se foi ao Karnak justamente como consequência do rompimento com o atual gestor. Em ambas as hipóteses, o tabuleiro político é afetado em todas as direções.
Ao abrir mão da prefeitura, Gracinha busca uma estrutura de poder alternativa para manter sua força eleitoral. Segundo o ex-senador João Vicente Claudino, o grupo Moraes Sousa, sem o controle da prefeitura e com a FIEPI rompida, ficaria politicamente órfão - e o único abrigo disponível seria o governo estadual. “Foi uma decisão lógica”, aponta JVC, “mas não sem riscos”.
A mudança de rota da deputada, no entanto, tem um alto custo político. A frase icônica de seu pai - “Nascer, crescer e votar no PT só se faz uma vez” - volta agora como um fantasma a assombrar o discurso dos Moraes Sousa. Como justificar uma aliança com um grupo político que foi por décadas o principal alvo da família?
Mais do que um movimento de aproximação institucional, a guinada de Gracinha parece atender a uma necessidade de sobrevivência política. Afinal, sem a máquina da prefeitura e com a base dividida, sua reeleição à Alepi em 2026 pode estar seriamente ameaçada. O prefeito Francisco já ensaia o lançamento de um nome próprio e, com a caneta na mão, pode colocar Gracinha no banco de reserva da política parnaibana.
A entrada de Gracinha no círculo de influência do Karnak pode realinhar completamente as forças políticas em Parnaíba, abrindo caminho para uma disputa ainda mais fragmentada em 2028. O PT tem seus próprios projetos locais. O MDB também. Zé Filho e Dr. Hélio são pré-candidatos competitivos. Gracinha, portanto, entra num terreno minado e sem garantias. Não há compromisso firmado com sua candidatura - apenas a promessa de abrigo político.
Se a população parnaibana interpretar essa mudança como oportunismo, o movimento pode sair pela culatra. A narrativa de “traição ideológica” pode favorecer o surgimento de uma terceira via - uma candidatura de fora das famílias tradicionais, com discurso de renovação e coerência.
Gracinha ganha tempo, estrutura e sobrevida política, mas perde parte de sua base ideológica e corre o risco de se tornar apenas mais uma entre vários nomes no tabuleiro do Karnak.
O prefeito Francisco Emanuel ganha força como o novo centro de poder conservador, podendo inclusive disputar ou eleger um nome forte à Alepi, deslocando Gracinha.
O governo estadual ganha uma aliada estratégica em uma cidade chave, mas arrisca-se a trazer para dentro um grupo historicamente opositor e com discurso imprevisível.
E o povo de Parnaíba? Esse, mais uma vez, fica à mercê das movimentações de cúpula. Mas não é ingênuo. O eleitor parnaibano tem memória - e, se se sentir traído, pode ser o fiel da balança capaz de derrubar todos os peões do tabuleiro.
Mín. 24° Máx. 35°