Cinco meses após deixar o cargo, o ex-prefeito de Teresina, Dr. José Pessoa Leal (PRD), finalmente quebrou o silêncio. Em entrevista à TV Clube, nesta quarta-feira (7), ele se defendeu das acusações de que teria deixado um rombo bilionário nas contas do município. O problema? Sua defesa foi um tiro no próprio pé.
Dr. Pessoa alega que não sabia de nada, que não tinha experiência política e que delegou tudo aos seus secretários. O discurso, que poderia soar honesto aos mais ingênuos, na verdade escancara a tragédia de uma gestão amadora que deixou a maior cidade do Estado de joelhos.
“Não tive experiência. Reconheço a falta de experiência política. Eu era o gestor máximo, mas entreguei a administração aos meus secretários”, assume.
Não se trata de uma confissão humilde. Trata-se da autoafirmação da irresponsabilidade institucional. O prefeito de uma capital não pode agir como se fosse um passageiro no próprio governo. Ele não é um espectador: é o ordenador de despesas, o responsável maior pela máquina pública. Quando afirma que os secretários fizeram o que bem entenderam, Dr. Pessoa assume, de forma incrivelmente explícita, sua negligência como gestor.
No mesmo dia da entrevista de Dr. Pessoa, o atual prefeito, Dr. Silvio Mendes (União Brasil), foi à imprensa para detalhar o cenário desolador herdado da gestão anterior: uma dívida de mais de R$ 3 bilhões.
R$ 480 milhões em restos a pagar
R$ 280 milhões em depósitos e consignações
R$ 212 milhões com terceirizados
R$ 100 milhões de outras despesas
R$ 110 milhões apenas da Fundação Municipal de Saúde
R$ 502 milhões com o Instituto de Previdência do Município (IPMT)
Juros de R$ 620 milhões em empréstimos com o Banco do Brasil
Outros R$ 200 milhões com Caixa e Banco de Brasília
Com isso, metade do orçamento da prefeitura para 2025 já nasce comprometido. E isso não é apenas um número frio: é escola sem merenda, hospital sem insumo, obra paralisada, salário comprometidos.
Diante do caos, o ex-prefeito reage como quem foi traído pela própria equipe. Rebate as acusações, nega irregularidades, afirma que “não encobriria nada” e ameaça ir à Justiça contra o uso de seu nome.
“Cuide da administração e deixe de fazer fanfarra com o meu nome”, disparou, numa tentativa quase patética de proteger o que resta de sua imagem pública.
Mas Dr. Pessoa parece esquecer um detalhe essencial: a história que ele quer apagar foi escrita por sua própria caneta. Ele nomeou cada secretário. Ele assinou os contratos. Ele autorizou as despesas. Ele ignorou alertas. Ele blindou auxiliares suspeitos. E agora, tenta lavar as mãos, como se nada tivesse acontecido.
O que Dr. Pessoa tenta fazer, na prática, é dissociar o médico humano do prefeito omisso e desastroso. Quer ser lembrado como o “vovô sorridente, dançador e honesto”, mas não quer responder como o gestor que abandonou o leme e deixou o barco afundar.
Mesmo após ter as contas de 2023 reprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e ser alvo de mais de 3 mil denúncias, ele insiste em dizer que “não sabia” e que “foi tudo feito à sua revelia”. Ora, se não sabia, foi incompetente. Se sabia e não agiu, foi conivente. Em ambos os casos, fracassou como gestor.
Dr. Pessoa pode ser sincero ao reconhecer sua falta de experiência. Mas a sinceridade não apaga os erros, muito menos as consequências. O que sua gestão deixou para Teresina não foi apenas um rombo financeiro: foi um legado de desorganização, improviso, descontrole e permissividade.
Agora, o ex-prefeito tenta, com voz mansa e frases genéricas, se livrar do fardo que ele mesmo criou. Mas a história não será enganada por desculpas frágeis e apelos sentimentais. E o povo, que vive hoje os efeitos do desastre administrativo, não pode pagar o preço do amadorismo político disfarçado de humildade.
Se quiser manter a honra que ainda tem como médico e cidadão, Dr. Pessoa precisa parar de fugir da responsabilidade e começar a encarar a verdade. Do contrário, entrará para a história como o prefeito que abandonou o cargo sem sair da cadeira.
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