Em um momento em que o Brasil assiste ao fortalecimento escancarado de facções criminosas, o governo federal opta por não apertar o cerco. Em reunião com representantes dos Estados Unidos, o secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, rejeitou a proposta de classificar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) como organizações terroristas - medida que, além de simbólica, teria efeitos práticos, como o endurecimento da legislação e a possibilidade de colaboração internacional mais direta.
A justificativa apresentada por Sarrubbo é, no mínimo, controversa. Segundo ele, “nossas facções não atuam em defesa de uma causa ou ideologia”, e por isso não se enquadrariam legalmente na definição de terrorismo. A afirmação ignora que, na prática, essas organizações exercem domínio territorial, impõem toque de recolher, matam opositores, expulsam moradores, controlam sistemas penitenciários e corrompem o aparelho estatal - condutas que, em qualquer democracia funcional, seriam tratadas com o mesmo rigor reservado a grupos terroristas.
O governo Lula, no entanto, prefere seguir um caminho mais ameno. Em vez de reconhecer a escalada de poder do narcotráfico como uma ameaça à segurança nacional, opta por apresentar “políticas públicas” e uma “integração regional” como resposta. Discurso bonito, mas inócuo diante de uma realidade brutal: 26 estados e o Distrito Federal estão sob a influência direta ou indireta dessas facções.
Enquanto o secretário dialogava com David Gamble, chefe interino da Coordenação de Sanções do Departamento de Estado norte-americano, denúncias graves pairam sobre a atuação do Ministério da Justiça: uma das maiores traficantes do Amazonas, conhecida como a “Rainha do Tráfico”, teria circulado livremente por setores do ministério; o ex-ministro Flávio Dino chegou a entrar em comunidades dominadas por facções sem qualquer resistência - um privilégio que nem mesmo policiais têm.
A visita da comitiva americana, divulgada por Eduardo Bolsonaro (PL/SP), foi vista como tentativa dos EUA de pressionar o Brasil a agir de forma mais contundente. Mas o governo brasileiro parece determinado a manter sua linha tênue - e perigosa - entre o enfrentamento e a omissão.
O que está em jogo não é apenas o nome que se dá a esses grupos criminosos, mas o tipo de resposta que o Estado brasileiro oferece à violência que eles provocam diariamente. Ao rejeitar o rótulo de terrorismo, o governo também rejeita os instrumentos legais mais eficazes para desmantelar essas estruturas.
É uma escolha que, na prática, favorece o narcotráfico, fragiliza a autoridade do Estado e condena milhões de brasileiros a viver sob a lei do crime. E o custo disso - em sangue, medo e impunidade - cresce a cada dia.
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