A calmaria que ainda resta ao governo Lula 3 está prestes a ser abalada por uma reconfiguração de proporções históricas no Congresso Nacional. A federação entre União Brasil e Progressistas (PP), já oficializada, deve deflagrar uma debandada de parlamentares da base governista. O motivo: perda de influência regional, redistribuição de poder e insatisfação com a liderança centralizada do novo megapartido.
Com 109 parlamentares somados - 59 do União Brasil e 50 do PP - a federação se tornará a maior bancada da Câmara, ultrapassando o PL de Bolsonaro. A presidência da federação ficará com Arthur Lira (PP/AL), ex-presidente da Câmara e uma das figuras mais poderosas do Centrão. Já o comando político será dividido entre os líderes nacionais das duas siglas: Antônio de Rueda (União Brasil) e Ciro Nogueira (PP), este último ex-ministro de Bolsonaro e hoje um dos principais articuladores da oposição velada ao governo petista.
Parlamentares já indicaram que devem deixar os partidos por temerem perder controle sobre recursos do fundo eleitoral, montagem de chapas e poder de barganha nos seus Estados. Muitos estão de malas prontas para o PL de Bolsonaro, o que reforçaria ainda mais o campo conservador no Congresso.
A federação também incomodou deputados que compõem a base de Lula. A expectativa nos bastidores é que o governo perca pelo menos 15 a 25 votos fiéis na Câmara - o que, em votações apertadas, pode ser fatal. Com isso, a governabilidade de Lula entra em xeque, principalmente em temas espinhosos como reformas, indicações ao STF e políticas econômicas.
Além dos votos, ministérios ocupados por União Brasil e PP devem ser alvo de pressão. Há quem defenda uma redistribuição de pastas, pois dificilmente o governo conseguirá manter nomes de partidos que agora se organizam para uma candidatura majoritária contra Lula em 2026. A permanência do União Brasil nos ministérios do Turismo, Comunicações e Integração Nacional, por exemplo, se torna cada vez mais insustentável.
No Senado, o impacto também será profundo. O novo bloco passa a contar com 13 cadeiras, incluindo nomes de peso como Davi Alcolumbre (União Brasil/AP), presidente da Casa. Ou seja, o bloco não só terá capilaridade na Câmara, como poder de veto e influência direta nas principais pautas do Senado.
Se a projeção de Ciro Nogueira se concretizar - com a federação atraindo até 150 deputados após a janela partidária - o novo megapartido será o fiel da balança nas eleições de 2026. Com maior fatia do fundo partidário, domínio de palanques estaduais e comando sobre alianças estratégicas, esse agrupamento poderá lançar ou derrubar candidaturas majoritárias no país inteiro, incluindo a Presidência.
Lula, mais uma vez, se vê refém do Centrão - mas agora sob uma estrutura mais robusta, centralizada e com projeto de poder próprio. A pergunta que resta é: quanto tempo o governo conseguirá resistir antes de ceder ainda mais espaço ou desmoronar politicamente?
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