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Editorial CONEXÃO SUL

O PROGRESSO CHEGOU AQUI?

Mesmo depois de séculos, o Piauí continua sob esse efeito de despovoamento

20/03/2025 às 10h56
Por: Carolina Vedovato Fonte: CAROLINA VEDOVATO
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O PROGRESSO CHEGOU AQUI?

O Piauí é o segundo estado menos populoso do nordeste com 3,2 milhões de pessoas, mas isso não significa que seja um estado pequeno, muito pelo contrário, o Piauí é um estado significativamente grande, superando até mesmo o estado de São Paulo e Paraná, ele é maior até mesmo do que o Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas juntos, em questão territorial. Mas se o Piauí está longe de ser um estado pequeno, por que tão poucas pessoas vivem aqui?

A maioria da população se concentra a noroeste do estado, ao redor da capital Teresina, mais de 1,7 milhões de pessoas se concentram na capital e região metropolitana, as maiores cidades do Piauí, Teresina e Parnaíba estão no Oeste, e ao Leste do estado, grandes centros urbanos não se desenvolveram, o resto da população com mais de 1,4 milhões de habitantes se espalham em pequenos municípios ao redor do centro e sul do estado, essa distribuição populacional pode ser explicada pela história do nosso estado, que foi explorado desde o início focado na pecuária, criando extensas fazendas de criação de gado, e a criação de gado causa um efeito de despovoamento no mundo todo.

Mesmo depois de séculos, o Piauí continua sob esse efeito de despovoamento, tendo sua base econômica concentrada a noroeste. O resto do estado pouco percebe algum progresso chegando, com pessoas que ainda vivem em situação de vulnerabilidade social em cidades e municípios ao sul do estado, onde a maior parte da pobreza se concentra, municípios esses que são até desconhecidos pelos habitantes das grandes cidades ao oeste do estado.

De acordo com o censo do IBGE, o Piauí conseguiu reduzir a pobreza da população nos últimos anos, saindo de 55,4% para 45,3%, porém esse avanço foi de censos medidos de 2012 a 2023, uma diferença de onze anos. Quase metade da população piauiense ainda vive em situação de pobreza e a maior parte da outra metade vive lutando para não entrar na pobreza.

Hoje, o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) do Piauí é um dos impostos mais altos da federação, que terá mais um aumento no início de abril, superando o atual de 21,00% para 22,50%, mesmo com quase a metade de sua população em situação de pobreza e vulnerabilidade social tendo que pagar essa conta.

Uma conta que não fecha já que uma grande parte dos habitantes ao sul do estado ainda dependem de políticas públicas do governo e auxílios para sobreviver, também dependem de ajudas das prefeituras locais para transportes, exames, e até mesmo cestas básicas, com o aumento do ICMS uma passagem de ônibus até a capital que custava em torno de 80 a 120 reais até 2019, hoje custa 240 reais, se tornando inviável uma pessoa em situação de pobreza poder chegar à capital sem depender de ajuda das prefeituras locais, e muitas pessoas precisam fazer essas viagens para resolver problemas ou questões de saúde, já que os interiores não tem toda a infraestrutura que precisa para atender essa população sem depender da capital do Estado.

O cenário da educação não é diferente, segundo o IBGE, a taxa de analfabetismo do Piauí é a segunda maior do Brasil, fazendo com que pais em posições melhores de renda mandem seus filhos para estudar na capital Teresina, que tem um dos melhores resultados no índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb) entre todas as capitais do Brasil.

O que nos faz perguntar como um estado com resultados tão gratificantes na educação ainda assim, tem uma taxa de analfabetismo tão grande como a nossa? Um tanto quanto contraditório. É outra conta que não fecha, provando assim que o piauiense tem potencial, porém não temos infraestrutura ao sul do estado para explorar esse potencial. Enquanto ao norte do estado a população prospera, ao sul esse progresso não tem chegado na mesma proporção, está ainda a caminhar em passos lentos.

Não podemos resolver um problema histórico de uma hora para outra, mas não podemos negar que a falta de infraestrutura no Sul faz com que o estado inteiro caminhe em passos lentos em larga escala, fazendo com que o Piauí sempre esteja dentro dos piores índices do IBGE ano após ano, com um povo em sua imensa maioria ainda em situação de vulnerabilidade, tendo que muitas vezes sair do estado para procurar melhorias, nem mesmo optando pela capital do estado, o sul piauiense vem se mudando ao longo dos anos para a capital do Brasil, Brasília, que hoje concentra a maior parte do sul piauiense que saiu para procurar melhores oportunidades, seja na educação ou trabalho. Até quando o sul piauiense ficará à mercê do estado e suas políticas públicas precárias? Não sabemos, só sabemos que, para mudar esses índices, o governo precisa começar a olhar mais embaixo.

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Clesia Há 4 semanas Gilbués Falando aquilo que muitos não tem coragem de falar.Esse cenário precisa mudar. Por mais vozes como a sua Carol!
LarissaHá 4 semanas Gilbués Um estado tão grande em território mas pouco desenvolvido, a região do extremo sul é quase esquecida.
Ana Flávia Há 4 semanas Gilbués Realmente o sul é bastante esquecido . O estado de fato deveria olhar e investir mais nessa parte do Piauí . Contribuindo assim pra o desenvolvimento dessas cidades .
Rodrigo Dias Há 4 semanas Gilbués PIO estado precisa de fato, “olhar mais embaixo” e investir de maneira mais equilibrada para evitar que essa parte do Piauí continue esquecida, tendo em vista que já temos grandes empresas investindo na região!
Flávia Santana Tavares Há 4 semanas Góis Fico muito orgulhosa! em saber que ao Sul do Piauí hoje temos uma porta voz que pode falar por nossa cidade e também pelo estado. Não estamos mais sozinhos, Temos a sua "voz" para falar de um povo tão negligênciado pelos seus governantes.
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