O passar cruel, lento, irreversível e indeletável dos anos se revela nas pequenas atitudes do dia a dia, tornando-se uma simbologia particular do nosso pôr-do-sol da encarnação.
Os pais, cansados, já dão sinais que o corpo não consegue esconder. O fenômeno de ser mãe dos pais começa a se desvelar nos cantos da casa.
Os pais, em certo momento, tornam-se desnecessários, mas os filhos se tornam ultranecessários.
É o pai que dorme no sofá com o controle remoto na mão, mesmo assistindo ao seu programa preferido.
“Papai, acorde, vá para a cama”, eu digo gentilmente.
É a sopa em cima da mesa, esquecida quase que semanalmente, sobrando para a filha colocar na geladeira.
É a tia que insiste em dormir de maneira desconfortável, sem usar bolsa.
É o pai que pede para passar a tinta no cabelo com o pincel, pois já não gosta de ir ao salão mais.
Ser adulto saudável é se bastar com menos. É só a ponta, sempre a ponta. Já está bom o suficiente. Talvez só precise pintar daqui a pouco.
Já está bom. Já está bom. Envelhecer com sabedoria é desapegar do supérfluo, do perfeccionismo, da ordem, do impecável, da cerimônia.
É estar onde sempre se quis: na sua melhor versão.
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