Não há governo que resista sem articulação política - e a gestão Lula 3 parece ignorar essa máxima. Cada vez mais alheio ao Congresso, aos governadores e até a sua própria base, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já não lembra nem de longe o habilidoso articulador dos anos 2000. O saldo? Um governo acéfalo, derrotado sucessivamente no Parlamento, com um chefe de Estado cada vez mais isolado em seu palácio - e talvez até de si mesmo.
É difícil acreditar, mas é real: em 2025, Lula não recebeu nenhum deputado ou senador para despacho privado institucional, salvo raras exceções de petistas fiéis ou do então presidente da Câmara, Arthur Lira. Governadores aliados, que antes tinham portas abertas, também foram ignorados. Helder Barbalho (MDB/PA), anfitrião da COP30, foi praticamente o único a ser recebido, por razões óbivias. Enquanto isso, figuras como Cristina Kirchner, condenada por corrupção e em prisão domiciliar, tiveram mais tempo com o presidente do que toda a base aliada no Congresso.
Em seu primeiro e segundo mandatos, Lula fazia da conversa sua principal arma: longas reuniões com partidos, agrados a prefeitos, acordos com governadores. Agora, a agenda de 2025 é ainda mais esvaziada que a de 2024 - recebeu apenas 4 deputados e 5 senadores, todos do PT ou figuras institucionais obrigatórias.
O que explica esse isolamento?
As hipóteses se acumulam em Brasília. Há quem aponte influência direta de Janja, que estaria blindando o marido para evitar pressões e desgastes. Há quem enxergue um Lula simplesmente cansado, desinteressado da política miúda e sem apetite para negociar com um Congresso cada vez mais hostil. Entre aliados, alguns falam até em problemas de saúde - física e mental. Sergio Moro, senador da oposição, já sugeriu publicamente que Lula apresenta “senilidade” e não tem mais condições de exercer plenamente as funções.
De fato, os sinais de inapetência são visíveis: a agenda institucional definha, as derrotas legislativas se acumulam e a base se fragmenta. Deputados e senadores petistas reclamam do desprezo e da falta de interlocução. O Planalto age por notas oficiais e ministros desorientados, tentando tapar buracos sem comando central.
Esse isolamento cobra preço alto. A relação com a base aliada deteriora. O governo perde emendas, não consegue avançar reformas, não barra CPIs. O presidente não articula nem para si nem para seus projetos: a agenda econômica emperra, a popularidade derrete e os adversários tomam conta do espaço político. Sem confiança no Planalto, deputados negociam direto com Lira, que se fortalece ainda mais.
Governadores também se ressentem, já que as demandas regionais não são ouvidas, gerando insatisfação que respinga em votos no Congresso. Empresários, por sua vez, percebem um governo frágil e desorientado, aumentando a insegurança política e econômica.
O homem que, em 2002, se apresentou como conciliador e construtor de pontes, hoje parece um presidente enclausurado, sem ânimo para governar, incapaz de dialogar e cercado apenas por uma bolha de lealdade. Seja por cansaço, por saúde ou por estratégia mal calculada, Lula corre o risco de perder o pouco capital político que lhe resta.
A democracia não se sustenta no silêncio - e nem um governo sobrevive trancado em copas. Lula ainda pode mudar esse rumo, mas o tempo está contra ele. Tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac...
…o relógio não perdoa, presidente.
Tic-tac, tic-tac: cada minuto de isolamento é uma derrota a mais no Congresso, um governador a menos disposto a defender o Planalto, uma base cada vez mais impaciente.
Tic-tac, tic-tac: a governabilidade escorre pelos dedos enquanto o senhor permanece trancado em copas, reclamando de derrotas que poderiam ser evitadas com diálogo e articulação.
Tic-tac, tic-tac: o capital político, como a areia da ampulheta, vai se esgotando. E quando o último grão cair, será tarde para reconstruir pontes queimadas.
O tempo não para, presidente. O Brasil tampouco.
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