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Piauí: estatísticas em festa, ruas em luto

Enquanto a cúpula da segurança comemora queda nos homicídios dolosos, a população assiste ao avanço silencioso da violência em suas formas mais brutais, cotidianas e perturbadoras

16/06/2025 às 19h56 Atualizada em 16/06/2025 às 20h40
Por: Douglas Ferreira
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Cenas cada vez mais comuns: violência urbana toma conta das ruas e transforma rotina em medo - Foto: Reprodução
Cenas cada vez mais comuns: violência urbana toma conta das ruas e transforma rotina em medo - Foto: Reprodução

A cúpula da segurança pública do Piauí está em festa. A Secretaria de Segurança comemora, com dados do Mapa da Segurança Pública, uma redução de 10% nos homicídios dolosos em 2024 - um número que supera a média nacional e que, segundo o secretário Chico Lucas, “reflete o avanço consistente do Estado no enfrentamento à criminalidade”. Será mesmo?

Quem vive o Piauí real sabe que essa "vitória" está muito longe de ser sentida nas ruas. Há um descompasso gritante entre as planilhas oficiais e o terror diário enfrentado pelos piauienses. O que dizer das mulheres assassinadas em contextos banais, no barulho ensurdecedor de um bar ou no silêncio de uma 'camarinha'? Mas mulher também mata. Uma matou o companheiro por causa de R$ 20. E o filho que matou a mãe, o pai, o padrasto e o irmão? Ou ainda a estudante que sacou uma arma na cantina de uma escola particular e alvejou o colega de sala?

Os dados podem festejar queda em latrocínios, lesões seguidas de morte e roubos de veículos, mas ignoram o medo instalado em cidades como Picos, Floriano, São Raimundo Nonato, Parnaíba, Campo Maior, Altos e Teresina. Locais antes tranquilos, hoje tomados pela banalização da morte, pelos feminicídios em alta, pelos crimes homofóbicos e por execuções dentro de presídios.

Como acreditar num Estado que diz controlar a violência quando jovens são presos por decapitar irmãs ainda vivas na periferia de Teresina? Como aceitar esses números positivos quando o cidadão pisa na calçada com a certeza de que não sabe se voltará pra casa?

A verdade é que a criminalidade no Piauí evoluiu, se transformou, se espalhou como as pragas do Egito. Uma nuvem de gafanhotos paira sobre as cidades, os órgãos públicos e os palácios, devorando o erário e a esperança do povo. E quando os resultados dos levantamentos estatísticos chegam, o cenário já mudou - e para pior.

Os programas policiais na TV são os únicos a registrar dois dígitos de audiência porque falam o que o povo vê e sente. Porque expõem, dia após dia, o que o poder público tenta maquiar: o horror cotidiano, o medo de ir e vir. O piauiense come o feijão no almoço vendo sangue escorrer da tela da televisão. Ver uma moto se aproximar, virou sinal de alerta. O coração dispara, a taquicardia domina. Viver virou um exercício de sobrevivência.

O discurso oficial pode até parecer coerente nos palácios, mas soa cínico na periferia da capital e também médias e pequenas cidades. O piauiense não quer gráficos em power point, quer segurança para sair de casa, para estudar, trabalhar, ir à igreja, andar de bicicleta ou pegar o ônibus.

Sonhamos com o dia em que poderemos elogiar a redução da criminalidade com base na realidade, no cotidiano, e não, no marketing institucional. Enquanto isso não chega, seguimos acordados dentro de um pesadelo que parece não ter fim - com medo da próxima moto, do próximo olhar atravessado, do próximo adolescente armado, da próxima notícia que manchará o Piauí de sangue, de novo.

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A NOTÍCIA E O FATO
A NOTÍCIA E O FATO
Sobre Douglas Ferreira é multimídia. Além de jornalista, é bacharel em Direito. Foi repórter da TV Clube, afiliada da Rede Globo, por 10 anos e, em Caxias, no Maranhão, apresentou o programa “Fala Caxias”. Fundou e dirigiu por seis anos a Folha do Cocais. Foi secretário de Comunicação da Prefeitura de Caxias e retornou a Teresina como âncora da TV Meio Norte. Por 20 anos, reportou e apresentou na TV Antena 10, afiliada da Record. Também foi assessor de imprensa do Tribunal de Justiça do Piauí e passou por rádios e pelos maiores portais do Estado. Sua vida é o jornalismo. No Sistema Move de Comunicação, foi editor do Portal Move Notícias e apresentador do Business Cast, do canal movetvweb no YouTube. Agora, está à frente do Gazeta Hora1.
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