A cúpula da segurança pública do Piauí está em festa. A Secretaria de Segurança comemora, com dados do Mapa da Segurança Pública, uma redução de 10% nos homicídios dolosos em 2024 - um número que supera a média nacional e que, segundo o secretário Chico Lucas, “reflete o avanço consistente do Estado no enfrentamento à criminalidade”. Será mesmo?
Quem vive o Piauí real sabe que essa "vitória" está muito longe de ser sentida nas ruas. Há um descompasso gritante entre as planilhas oficiais e o terror diário enfrentado pelos piauienses. O que dizer das mulheres assassinadas em contextos banais, no barulho ensurdecedor de um bar ou no silêncio de uma 'camarinha'? Mas mulher também mata. Uma matou o companheiro por causa de R$ 20. E o filho que matou a mãe, o pai, o padrasto e o irmão? Ou ainda a estudante que sacou uma arma na cantina de uma escola particular e alvejou o colega de sala?
Os dados podem festejar queda em latrocínios, lesões seguidas de morte e roubos de veículos, mas ignoram o medo instalado em cidades como Picos, Floriano, São Raimundo Nonato, Parnaíba, Campo Maior, Altos e Teresina. Locais antes tranquilos, hoje tomados pela banalização da morte, pelos feminicídios em alta, pelos crimes homofóbicos e por execuções dentro de presídios.
Como acreditar num Estado que diz controlar a violência quando jovens são presos por decapitar irmãs ainda vivas na periferia de Teresina? Como aceitar esses números positivos quando o cidadão pisa na calçada com a certeza de que não sabe se voltará pra casa?
A verdade é que a criminalidade no Piauí evoluiu, se transformou, se espalhou como as pragas do Egito. Uma nuvem de gafanhotos paira sobre as cidades, os órgãos públicos e os palácios, devorando o erário e a esperança do povo. E quando os resultados dos levantamentos estatísticos chegam, o cenário já mudou - e para pior.
Os programas policiais na TV são os únicos a registrar dois dígitos de audiência porque falam o que o povo vê e sente. Porque expõem, dia após dia, o que o poder público tenta maquiar: o horror cotidiano, o medo de ir e vir. O piauiense come o feijão no almoço vendo sangue escorrer da tela da televisão. Ver uma moto se aproximar, virou sinal de alerta. O coração dispara, a taquicardia domina. Viver virou um exercício de sobrevivência.
O discurso oficial pode até parecer coerente nos palácios, mas soa cínico na periferia da capital e também médias e pequenas cidades. O piauiense não quer gráficos em power point, quer segurança para sair de casa, para estudar, trabalhar, ir à igreja, andar de bicicleta ou pegar o ônibus.
Sonhamos com o dia em que poderemos elogiar a redução da criminalidade com base na realidade, no cotidiano, e não, no marketing institucional. Enquanto isso não chega, seguimos acordados dentro de um pesadelo que parece não ter fim - com medo da próxima moto, do próximo olhar atravessado, do próximo adolescente armado, da próxima notícia que manchará o Piauí de sangue, de novo.
Mín. 20° Máx. 36°