Dando continuidade à nossa série sobre os grandes juristas brasileiros, depois da estreia com o imponente Clóvis Beviláqua, seguido pelo baiano Luiz Gama, é hora de abrir espaço para outra figura brilhante do Nordeste: Celso Barros Coelho. Maranhense de nascimento, o professor Celso Barros, era teresinense de fato, por ter escolhido a capital do Piauí para viver, estudar, trabalhar e ser feliz; e por ter recebido o título de cidadão piauiense. Além de jurista renomado, Dr. Celso foi também político, tendo ocupado uma cadeira na Câmara Federal. Mas Celso Barros Coelho foi muito mais...
Celso Barros Coelho: o “monstro sagrado” do Direito, cuja estatura intelectual e atuação efetiva transformaram o Piauí em sua verdadeira pátria jurídica.
Em um instante histórico em que a memória se esvai como areia solta na correnteza, ergue-se a figura incomensurável de Celso Barros Coelho - um homem que viveu e defendeu o Direito com a religiosidade dos visionários. Nascido em Pastos Bons (MA) em 11 de maio de 1922, encontrou em Teresina solo fértil para cultivar raízes profundas: aqui estudou, lecionou, advogou, legislou, construiu família, formou gerações e escreveu o seu nome com dor e glória na história jurídica do Piauí e do Brasil.
Poliglota exímio - fluente em latim, grego, francês, italiano e espanhol -, Celso Barros foi professor sacrificial no magistério, lecionando em escolas de Teresina e, posteriormente, como titular de Direito Civil na UFPI (1967–1992), além de professor visitante em Brasília e nos cursos da magistratura piauiense.
Bedel de integridade, exercitou a advocacia por mais de sete décadas, com atuações célebres no Tribunal do Júri - tanto que em 2023 o TJ/PI o homenageou como “um dos advogados de maior atuação na entidade”, comparando-o a Evandro Lins e Silva no cenário nacional. Em sua homenagem, a Escola Superior de Advocacia recebeu seu nome - um gesto simbólico: que a porta da advocacia continue a se guiar pela força de seu exemplo .
Na política, foi deputado estadual (cassado pela regime militar de 1964) e, mais tarde, deputado federal com destaque singular: vice‑líder, relator do Livro V do Código Civil (Direito das Sucessões), relator da Lei do Inquilinato, da Lei de Execuções Penais e autor do projeto pioneiro da regulamentação do divórcio (27/6/1969), elogiado com admiração por Sílvio Rodrigues (catedrático da USP e Mackenzie, o mestre Silvio Rodrigues era também doutor "Honoris Causa" da Faculdade de Direito da Universidade de Paris). Mesmo preso pela moral, nunca teve a alma subjugada: presidiu a OAB/PI por seis mandatos (1963–1974), em pleno arbítrio, sem curvar-se ao autoritarismo.
Sua erudição transbordava em dezenas de livros de direito, literatura e história - como “Da poesia latina na época de Augusto” (1958), “O direito como razão histórica” (1964) e outros. Manteve assento na Academia Piauiense de Letras e liderou a Academia Jurídica, presidindo a primeira de 1998 a 2000.
Faleceu em Teresina, aos 101 anos, em 10 de julho de 2023, deixando impossíveis homenagens. O Conselho Federal da OAB publicou nota de pesar, exaltação moral do Governo do Estado, cerimônias da OAB/PI e tributos que não cabe apenas em placas - mas em sua história e na advocacia do Piauí como farol permanente.
A dimensão de Celso Barros transcende calendário. Ele foi construtor de instituições, professor que forjou consciências cívicas, advogado que converteu o Tribunal do Júri em templo da justiça, legislador cuja pena reconfigurou a vida civil nacional. Resistiu ao arbítrio, ensinou a liberdade, cultivou a erudição. Incontornável, inigualável, imortal - não por mística, mas por mérito. Sua obra permanece viva no cotidiano dos tribunais, nas salas de aula, nas leis e, principalmente, nas consciências de quem conheceu sua autoridade e seu amor indômito pelo Direito.
- Que o auditório que hoje leva seu nome, as leis que construíram o país e as mentes que formou lembrem-se sempre: em Celso Barros Coelho habita a grandeza do Direito incorruptível.
Mín. 20° Máx. 36°