O ataque israelense a instalações militares e nucleares no Irã reacendeu o debate global sobre segurança, diplomacia e o papel das nações diante de ameaças reais. Enquanto potências ocidentais reafirmam o direito de Israel à autodefesa, a nota oficial emitida pelo governo brasileiro gerou incômodo entre especialistas: não pela diplomacia em si, mas por uma posição que, para muitos, ignora nuances essenciais do conflito.
A reação do Brasil já era esperada. O país, sob a gestão atual, tem adotado uma postura que muitos interpretam como alinhada a regimes autoritários — seja por convicção ideológica ou cálculo geopolítico. No caso específico do Irã, trata-se de uma teocracia declaradamente hostil a Israel e abertamente contrária à sua existência. O discurso oficial iraniano é claro: o Estado judeu não deve existir. E não se trata de retórica isolada, mas de uma política sustentada por décadas.
A discussão sobre o programa nuclear iraniano não é nova. Apesar dos acordos internacionais assinados, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) recentemente admitiu que não pode garantir o uso exclusivamente pacífico das instalações iranianas. Mais alarmante: há urânio enriquecido suficiente para fabricar múltiplas ogivas nucleares. O cenário preocupa. E muito.
Neste contexto, a ação israelense não pode ser tratada como mero capricho bélico. É, antes, uma resposta estratégica a uma ameaça existencial. O Irã não apenas desenvolve armas: financia milícias como Hamas e Hezbollah, que atuam diretamente contra Israel. O ataque de 7 de outubro de 2023 — quando civis foram brutalmente assassinados — foi um divisor de águas. Desde então, Tel Aviv intensificou suas ações de autodefesa, incluindo o bombardeio a uma embaixada iraniana em Damasco, onde oficiais da Guarda Revolucionária operavam com fins militares.
Ao atacar o Irã diretamente, Israel rompe um tabu, mas o faz em legítima defesa — ao menos na visão de boa parte da comunidade internacional. O objetivo: desmantelar centros de produção nuclear, neutralizar líderes militares e impedir que armas de destruição em massa caiam nas mãos de um regime fundamentalista.
A crítica à operação israelense por parte de governos muçulmanos e de setores da opinião pública ocidental revela uma dissonância conhecida: a condenação seletiva. Poucos se detêm ao fato de que o regime iraniano oprime seu próprio povo, persegue opositores, censura mulheres e reprime minorias. Ignorar isso em nome de uma pretensa neutralidade é, no mínimo, negligência diplomática.
E o Brasil? A nota emitida pelo Itamaraty foi mais uma oportunidade perdida. O país, que poderia exercer uma liderança ponderada, optou pela irrelevância. Preferiu criticar Israel sem reconhecer a gravidade do cenário. Não se exige aplauso, mas equilíbrio. E, neste caso, o equilíbrio exige reconhecer que o mundo não pode permitir que um regime como o do Irã alcance capacidade nuclear plena.
Por fim, enfraquecer o regime iraniano pode, paradoxalmente, ser o único caminho realista para que um dia se estabeleça paz duradoura no Oriente Médio — inclusive com a criação de um Estado palestino viável. Mas isso será impossível enquanto forças como Hamas e Hezbollah forem financiadas, treinadas e armadas por Teerã.
Israel agiu. O mundo, com raras exceções, compreende. E o Brasil, mais uma vez, observa de longe, aplaudido apenas por quem prefere ignorar o risco que se aproxima.
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