A espetacularização da Justiça no Brasil assusta. A prisão, que pela Constituição deveria ser a "ultima ratio" - última razão ou último recurso, última alternativa -, virou regra, especialmente quando o alvo é alguém alinhado à direita. A operação que levou o ex-ministro do Turismo Gilson Machado à prisão preventiva nesta sexta-feira (13), em Recife, é mais um capítulo desse enredo de show punitivo em rede nacional.
A suspeita: tentativa de ajudar Mauro Cid a obter um passaporte português. A acusação formal: obstrução de Justiça. O fato: até agora, nada está comprovado. Gilson nega, diz não ter influência sobre o consulado de Portugal e rechaça qualquer envolvimento em uma fuga planejada.
Em depoimento à PF, afirmou categoricamente: “Não matei”. De fato, não matou - apenas falou demais, dizem alguns. E isso, no Brasil de hoje, tem custo alto.
A prisão durou apenas algumas horas. O ministro Alexandre de Moraes revogou a detenção no mesmo dia, afirmando que o objetivo já havia sido cumprido com o depoimento e a apreensão de celulares. A prisão preventiva deu lugar a medidas cautelares: comparecimento quinzenal à Justiça, retenção de passaporte, proibição de contato com outros investigados e de sair do país.
Mas a pergunta continua no ar: onde está o critério? Enquanto isso, criminosos violentos e corruptos de alta periculosidade continuam zombando da Justiça e da população. São dois pesos e duas medidas?
Gilson Machado é mais um nome na lista de figuras do governo Bolsonaro que enfrentam o peso de um sistema judicial que, por vezes, parece movido mais pela ideologia do que pela isenção. A verdade pode até doer, mas precisa ser dita: no Brasil atual, quem fala demais, cala atrás das grades - ainda que por poucas horas.
E quanto a Mauro Cid? E quanto aos laudos que ainda virão? E quanto ao próprio STF: age por justiça ou por intimidação? Eis o Brasil, onde a liberdade virou privilégio - e não direito.
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