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Justiça CENSURA A VISTA

STF mira big techs, mas acerta em cheio a liberdade de expressão

Julgamento que responsabiliza plataformas por conteúdo de usuários é vendido como avanço contra crimes digitais, mas abre caminho perigoso para a censura silenciosa no Brasil

11/06/2025 às 20h16 Atualizada em 12/06/2025 às 08h04
Por: Douglas Ferreira
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Julgamento do STF coloca a liberdade de expressão na UTI no Brasil - Foto: Reprodução
Julgamento do STF coloca a liberdade de expressão na UTI no Brasil - Foto: Reprodução

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para responsabilizar as plataformas digitais pelos conteúdos publicados por seus usuários. A decisão, que tem sido apresentada como uma resposta firme contra crimes virtuais, desinformação e discurso de ódio, esconde um subtexto preocupante: o avanço sorrateiro da censura sob o manto do combate à impunidade digital.

Até esta quarta-feira (11), o placar estava em 6 a 1 a favor da responsabilização direta das big techs, como Google, Meta e X (antigo Twitter). A mudança de entendimento representa um rompimento com o Marco Civil da Internet, que desde 2014 estabelece que as plataformas só podem ser responsabilizadas se, após uma ordem judicial, não removerem conteúdo ofensivo.

Mas agora, com o novo posicionamento da Corte, não será mais necessária a mediação de um juiz para que conteúdos sejam derrubados - bastará uma notificação ou, em casos “manifesta e evidentemente ilícitos”, o julgamento subjetivo da própria empresa.

Liberdade na UTI

A justificativa é sedutora: conter crimes que se espalham como pólvora nas redes. Casos de racismo, apologia à violência, pornografia infantil, fake news, ataques à democracia - todos reais, graves e que exigem ação urgente. O problema é o método.

A decisão do STF transforma empresas privadas em juízas da verdade, com poder de decidir, sem processo legal, o que pode ou não circular na internet brasileira. E mais grave: abre espaço para que conteúdos legítimos, críticos ou dissidentes sejam removidos com base em critérios vagos, interesses comerciais ou pressão política.

O preço da pressa

A medida chega sem que o Congresso tenha discutido profundamente o tema. O PL das Fake News (2630/2020), que propõe uma regulação democrática das redes, está travado. Nesse vácuo, o STF se posiciona como legislador informal e aplica, na prática, uma nova política de moderação sem debate público, sem regulação clara e sem o devido contraditório.

“O Marco Civil virou um véu de irresponsabilidade”, disse o ministro Gilmar Mendes em seu voto. Mas o que se coloca em seu lugar é uma névoa de insegurança jurídica - um território opaco onde as regras mudam conforme o vento político e os algoritmos operam no escuro.

Do combate à desinformação ao risco do autoritarismo digital

O objetivo declarado é nobre: frear a indústria do ódio e da mentira. Mas o efeito colateral pode ser devastador: inibir o debate público, silenciar vozes independentes e concentrar ainda mais poder nas mãos de poucos - juízes e executivos de tecnologia.

Afinal, quem define o que é “manifestamente ilícito”? Um meme crítico? Uma denúncia? Uma sátira política? Um texto provocativo?

Em regimes autoritários, a censura raramente chega de forma escancarada. Ela se infiltra em decisões técnicas, judicializações sutis, remoções “automatizadas” - tudo em nome do bem comum.

A quem interessa esse novo modelo?

Responsabilizar as plataformas é necessário - mas dentro de um modelo transparente, com critérios definidos por lei e sob controle democrático. A pressa do STF pode até proteger o presente, mas compromete o futuro da liberdade de expressão no país.

É preciso escolher: queremos uma internet regulada com equilíbrio e responsabilidade - ou uma internet policiada, onde a crítica é removida antes que alguém questione?

Por enquanto, o STF fez sua escolha. Mas o Brasil ainda precisa fazer a sua.

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Luís Carlos Saraiva Há 1 mês São Luís MAUma vergonha. Vergonha mesmo.
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A NOTÍCIA E O FATO
A NOTÍCIA E O FATO
Sobre Douglas Ferreira é multimídia. Além de jornalista, é bacharel em Direito. Foi repórter da TV Clube, afiliada da Rede Globo, por 10 anos e, em Caxias, no Maranhão, apresentou o programa “Fala Caxias”. Fundou e dirigiu por seis anos a Folha do Cocais. Foi secretário de Comunicação da Prefeitura de Caxias e retornou a Teresina como âncora da TV Meio Norte. Por 20 anos, reportou e apresentou na TV Antena 10, afiliada da Record. Também foi assessor de imprensa do Tribunal de Justiça do Piauí e passou por rádios e pelos maiores portais do Estado. Sua vida é o jornalismo. No Sistema Move de Comunicação, foi editor do Portal Move Notícias e apresentador do Business Cast, do canal movetvweb no YouTube. Agora, está à frente do Gazeta Hora1.
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