Entre beijos protocolares, apertos de mão e jantares requintados, Lula e Macron trocam elogios como velhos camaradas. Mas por trás do verniz da diplomacia, há um elo invisível que os une de forma muito mais real: a impopularidade crônica. Ambos são presidentes em crise com seus próprios povos - reprovados, rejeitados e rejeitáveis aos olhos de milhões de eleitores.
Segundo a mais recente pesquisa Quaest, Lula amarga 57% de rejeição no Brasil. Macron, ainda mais afundado, ostenta estonteantes 73% de repulsa entre os franceses, de acordo com o instituto Odoxa. É o retrato de uma democracia que cobra, critica e, mais do que nunca, não se deixa seduzir por discursos desconectados da realidade.
Tanto o brasileiro quanto o francês só aparecem em “eventos controlados”, blindados por equipes de segurança e cercados de simpatizantes selecionados a dedo. Um passeio espontâneo pelas ruas de Paris ou de Brasília seria, hoje, um ato de temeridade - não por ameaça física, mas pelo tsunami de vaias, cartazes e câmeras prontas para registrar a vergonha pública.
Macron virou símbolo de um elitismo arrogante, distante das angústias da França profunda. Desde a impopular reforma da previdência, coleciona protestos, greves e uma imagem corroída. Já Lula, apesar da retórica social e das promessas de “reconstrução”, vive um governo engessado por alianças fisiológicas, escândalos reincidentes e uma economia que cambaleia entre improvisos e ilusões fiscais.
Ambos ainda tentam se vender como líderes progressistas, defensores da democracia e dos direitos humanos. Mas o eleitor médio parece ter percebido que, por trás dos slogans, o que resta é mais do mesmo: populismo com verniz intelectual, políticas de efeito imediato e uma máquina estatal que favorece grupos organizados em detrimento da população real - aquela que paga impostos, depende de serviços públicos e clama por segurança.
Na França, 84% dos cidadãos querem virar a página de Macron. No Brasil, 66% não querem Lula sequer como candidato em 2026. Se houvesse um “índice de fadiga democrática”, os dois seriam campeões incontestes. E ainda assim, em uma espécie de dança das vaidades, continuam promovendo encontros diplomáticos que mais parecem atos de autoengano do que projetos de cooperação bilateral.
A imprensa tradicional, sobretudo no Brasil, trata essa rejeição generalizada com indiferença ou silêncio. Salvo raras exceções, como o colunista Cláudio Humberto, poucos tocam no desconforto de ver dois líderes tão impopulares desfilando juntos sob o manto da “solidariedade internacional”. As redes sociais, por outro lado, não perdoam - expõem, ironizam e questionam.
A realidade é dura, mas necessária: a rejeição de Lula e Macron não é uma coincidência, é sintoma. Sintoma de governos que não entregam, que não ouvem, e que ainda acreditam que o marketing substitui a gestão. Não substitui. A democracia tem memória - e, cada vez mais, voz.
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