A Colômbia amanheceu ferida. O sangue derramado do senador Miguel Uribe Turbay, alvejado na cabeça durante um comício em Bogotá, no último sábado, escancarou as fissuras profundas de uma nação mergulhada em intolerância política, violência e suspeitas de conivência institucional. A tentativa brutal de silenciar o principal rosto da oposição conservadora ao governo de Gustavo Petro, líder guerrilheiro de esquerda com histórico ligado às Farc, não pode ser ignorada - tampouco tratada como um "ato isolado".
María Claudia Tarazona, esposa de Uribe, foi categórica: “Miguel está lutando pela vida”. Com os olhos marejados, ela pediu orações à população e afirmou confiar na equipe médica que realiza todos os esforços para salvar o presidenciável, ainda em estado crítico. Os disparos, feitos por um adolescente entre 14 e 15 anos, atingiram Uribe na cabeça e na perna. O senador passou por uma cirurgia de três horas na Fundação Santa Fé após transferência de emergência.
Mas a pergunta que ecoa em todo o continente é: quem mandou atirar? Quem se beneficia com o silêncio de Uribe? O menor apreendido seria mesmo o autor intelectual? Ou apenas o executor de um plano arquitetado nos porões da política suja?
Miguel Uribe, 39 anos, não é apenas mais um político. Ele carrega no sangue a memória de sua mãe, a jornalista Diana Turbay, assassinada por narcotraficantes ligados ao cartel de Escobar, e de seu avô, o ex-presidente Julio Cesar Turbay Ayala. O seu nome é símbolo da resistência conservadora contra os resquícios do narcoterrorismo e a infiltração da ideologia radical no poder estatal.
Ao lado do ex-presidente Álvaro Uribe Vélez e do partido Centro Democrático, Miguel vinha crescendo como uma alternativa real à esquerda no poder - uma esquerda que já não esconde mais sua intenção de controlar a informação, as instituições e agora, talvez, até os destinos dos seus adversários.
A polícia de Bogotá abriu investigação. O governo lamentou o atentado, em nota protocolar, como “um ataque à democracia”. Mas a sociedade exige mais do que palavras. Quem mandou o garoto puxar o gatilho? Teria ele ligação com grupos armados, políticos ou agentes infiltrados? Teria sido cooptado, ameaçado, usado?
O atentado reacende um alerta vermelho na América Latina. A Colômbia já viveu guerras civis, domínio de cartéis e anos de terror. Agora, ensaia uma nova era de perseguição política disfarçada sob o véu democrático? Atacar um presidenciável no meio de uma multidão é uma afronta não apenas ao seu partido, mas à democracia como um todo.
A esquerda no poder, que chegou ao Planalto colombiano sob promessas de paz e justiça social, precisa explicar o que está acontecendo. Um opositor não pode ser calado com balas. Um menor armado não pode ser visto apenas como um “caso policial”. Isso é político. Isso é estratégico. Isso é perigoso.
Enquanto o país espera atualizações sobre o estado de saúde de Miguel Uribe, cabe à imprensa, às redes sociais e à população civil a responsabilidade de manter a vigilância. O silêncio - este sim - pode ser fatal.
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