Da saúde à educação, passando por infraestrutura e segurança, o país parece sempre reagir aos problemas, em vez de preveni-los. E isso tem um custo alto.
O Brasil não é um país que planeja. É um país que apaga incêndios. Que remenda onde rompe, improvisa onde falta, e responde às crises quando elas já explodiram. No lugar de políticas de Estado, temos gestos de ocasião. No lugar da visão de futuro, temos ações apressadas para sobreviver ao presente.
Essa cultura do improviso está enraizada nas estruturas públicas e, não por acaso, reflete também no comportamento coletivo. Quando falta água, perfura-se um poço. Quando a dengue avança, faz-se um mutirão de última hora. Quando a educação colapsa, discute-se o analfabetismo. Mas sempre depois. Sempre no susto.
Não é só questão de gestão. É também cultural. O "jeitinho brasileiro", exaltado como criatividade ou esperteza, muitas vezes é apenas a normalização da falta de preparo e a falta de compromisso, de um povo acostumado a ser desrespeitado. Não antecipamos problemas. Não construímos políticas com continuidade. Cada governo reinventa a roda, desconstrói o que o anterior iniciou e começa tudo do zero. A estabilidade institucional é sacrificada no altar da disputa política.
O resultado é visível. O saneamento básico ainda não chega para quase 100 milhões de brasileiros. A malha ferroviária está abandonada. O sistema educacional vive de reformas improvisadas, sem conexão com a realidade dos alunos. A saúde pública entra em colapso a cada novo vírus. E a segurança pública alterna entre omissão e truculência.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa o 94º lugar entre 141 países em qualidade de infraestrutura. E, de acordo com o IBGE, 34% dos municípios não têm plano de contingência para desastres naturais, mesmo sendo um país sujeito a enchentes, deslizamentos e secas severas. Planejar, no Brasil, ainda parece um luxo. Sempre enfrentando os mesmos problemas e só procurando resolver depois que o problema chega, de novo.
Mas esse improviso cobra caro. E quem paga é sempre o povo, sempre os mais pobres, os que não têm acesso a alternativas privadas, a escolas melhores, a hospitais particulares, a ruas asfaltadas ou a água limpa.
Investir em planejamento, em políticas públicas de longo prazo e em profissionalização da gestão é uma questão de sobrevivência nacional, mas estamos acostumados a não prevenir problemas, acostumados a enfrentar para depois pensar no que fazer, e nisso muitas pessoas perdem tudo, várias vezes, são lesadas, diversas vezes. Mas se acostumaram, por que no Brasil é assim mesmo a política não tem jeito, e assim eles vão resolvendo seus próprios problemas enquanto a população segue cheia deles, eles cada vez mais ricos e nós cada vez mais sugados. Mas quem sabe depois resolve.
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