O pré-candidato à presidência da Colômbia, Miguel Uribe Turbay, encontra-se entre a vida e a morte após ser alvo de um brutal atentado a tiros enquanto discursava em um bairro popular da capital. Aos 39 anos, Uribe, atual senador e uma das principais vozes da oposição ao governo de esquerda de Gustavo Petro, foi alvejado por três disparos — dois deles na cabeça. Seu estado de saúde foi classificado como de “gravidade máxima”, com prognóstico reservado, segundo o boletim divulgado neste domingo pela clínica onde está internado.
O crime chocou o país e reverberou internacionalmente, levantando sérias dúvidas sobre o futuro da democracia colombiana e o avanço do autoritarismo camuflado sob o manto institucional. A tentativa de homicídio ocorre em meio a um ambiente político inflamado, marcado pelo avanço do controle ideológico do Estado, pela retórica bélica do governo e por um passado ainda vivo de violência política, tráfico de drogas e guerrilha.
A polícia informou que o atirador, um adolescente, foi preso em flagrante, ferido após a reação da equipe de segurança de Uribe. Contudo, o caso está longe de ser esclarecido. Até agora, nenhuma autoridade apresentou provas ou indicou quem seriam os autores intelectuais do atentado. A pergunta que inquieta o país permanece sem resposta: quem mandou matar Miguel Uribe?
A narrativa oficial já tenta se antecipar, tratando o episódio como "um ato isolado", cometido por um "lobo solitário". Mas a história recente da Colômbia ensina que, por trás de muitos tiros solitários, há sempre um discurso de ódio cultivado com esmero por aqueles que detêm o poder — e temem perdê-lo.
Uribe não é apenas um nome da oposição: ele é herdeiro de uma história política de enfrentamento ao narcoterrorismo. Neto do ex-presidente Julio César Turbay Ayala e filho da jornalista Diana Turbay, assassinada após ser sequestrada por agentes ligados ao cartel de Medellín, Miguel sempre representou uma ala da política colombiana que defende o rompimento com a herança das Farc, das milícias urbanas e da conivência com o crime.
O atentado a Miguel Uribe, portanto, não é apenas um crime contra um homem. É um crime contra a democracia. Contra o direito de divergir. Contra a possibilidade de disputar ideias livremente. É um recado direto de que na Colômbia de hoje, ser oposição pode custar a vida.
As redes sociais, mais uma vez, foram o canal onde a verdade rompeu o cerco da censura informal. Vídeos do momento do atentado, do desespero dos apoiadores e da captura do atirador viralizaram, enquanto veículos alinhados ao governo tentavam minimizar o ocorrido com manchetes anestesiadas.
A Colômbia se pergunta: e se Miguel Uribe morrer?
Se o atentado for abafado, se não houver respostas rápidas e contundentes, ficará cristalino que há algo podre no poder. Que o Estado, longe de ser neutro, talvez esteja permitindo - ou mesmo promovendo - a criminalização da oposição.
E, nesse caso, a Colômbia terá atravessado um ponto de não retorno. Porque a bala que atingiu Uribe, na verdade, atravessou a fronteira entre a democracia e o autoritarismo.
O atentado
Não foi apenas o corpo de Miguel Uribe Turbay que tombou neste sábado sangrento na capital colombiana. Tombou, também, o véu que encobria a crescente instabilidade democrática do país. Um tiro à queima-roupa - ou melhor, três -, disparados por um menor de idade, atingiram em cheio a cabeça do jovem senador, presidenciável da oposição, e acertaram em cheio a espinha dorsal da democracia sul-americana.
O atentado, ocorrido em plena luz do dia, enquanto Uribe discursava no Parque El Golfito, revela mais do que a fragilidade da segurança pública: escancara o avanço silencioso – mas brutal – da violência política e do autoritarismo velado. A Colômbia parece revisitar seus fantasmas: magnicídios, narcoterrorismo, milícias, coação. Um país ainda longe de enterrar seu passado.
A face do agressor? Um adolescente. Um menor de idade treinado para matar? Um lobo solitário perdido no caos? Ou um peão no xadrez sujo da política sul-americana? As autoridades dizem investigar. Mas as perguntas já ardem como pólvora: quem armou esse garoto? A mando de quem? Quem lucra com o silêncio de Miguel Uribe?
Não se trata mais apenas de investigar o gatilho - é hora de descobrir quem puxou os fios.
Uribe Turbay, 39 anos, representa um símbolo de resistência liberal em meio a um cenário dominado por um governo que flerta perigosamente com o autoritarismo. O presidente Gustavo Petro, ex-guerrilheiro das Farc reciclado em terno e gravata, lidera um governo que, sob o pretexto da paz, se aproxima cada vez mais do controle absoluto. Um Estado que empobrece a população com pacotes populistas, enquanto empareda as instituições sob o jugo da ideologia.
E então, quando um nome como Miguel Uribe emerge como alternativa, quando ameaça quebrar a hegemonia vermelha com propostas reais de reconstrução, a resposta não vem no debate - vem no chumbo.
O simbolismo é brutal: Miguel é neto de um ex-presidente, filho de uma jornalista morta por narcotraficantes, e agora, vítima de um novo capítulo da violência que sua família enfrentou por gerações. Ele carrega na pele e no sangue a biografia de uma Colômbia que resiste. E, talvez por isso, tenha sido alvejado.
O atentado é uma tentativa clara de intimidação política. Mas não só: é também um recado a toda a América Latina. O recado de que regimes autoritários não precisam mais declarar ditaduras - basta sufocar adversários no subsolo, atacar a liberdade na penumbra, e silenciar vozes incômodas com balas disparadas por “lobos solitários”.
O silêncio da imprensa tradicional, aliás, é ensurdecedor. Entre frases protocolares e coberturas mornas, o crime vai sendo empurrado para a vala comum do “tragicamente esperado”. Mas o povo não é mais refém da mídia domesticada. As redes sociais escancaram a verdade com vídeos crus, sangue vivo, e gritos sufocados. A nova aldeia global não perdoa a mentira - e tampouco esquecerá este crime.
Petro lamentou o atentado. Palavras frias, institucionalizadas. Cancelou uma viagem internacional. Um gesto calculado. Mas não há gesto que apague o cheiro de pólvora que impregna o ar de Bogotá. Nem discurso que dissolva a desconfiança crescente da população.
O que resta, então?
Resta cobrar. Cobrar das autoridades uma investigação séria, com transparência e independência. Resta proteger os opositores, que se tornaram alvos vivos. Resta alertar o continente: a liberdade está sob ataque - e não será protegida por covardes, omissos ou coniventes.
Miguel Uribe Turbay sobreviveu, por ora. Está internado, entre a vida e a morte. Mas sua voz - a que queriam calar - hoje grita mais alto do que nunca. Grita por justiça. Grita contra o medo. Grita contra o autoritarismo camuflado de democracia.
E, acima de tudo, grita para que a Colômbia acorde.
Confira o vídeo. Imagens fortes:
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