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Atentado a Miguel Uribe Turbay reacende o fantasma da violência política na Colômbia

Candidato opositor é baleado na cabeça durante comício em Bogotá; crime levanta suspeitas sobre tradição autoritária de regimes esquerdistas que silenciam adversários pela força

07/06/2025 às 21h50 Atualizada em 07/06/2025 às 21h59
Por: Douglas Ferreira
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Presidenciável Uribe Turbay logo após ser alvejado na cabeça - Foto: Reprodução
Presidenciável Uribe Turbay logo após ser alvejado na cabeça - Foto: Reprodução

A cena choca, mas não surpreende. O senador e presidenciável Miguel Uribe Turbay, de 39 anos, foi vítima de um atentado a tiros enquanto discursava a apoiadores em Bogotá. O ataque, que o deixou gravemente ferido na cabeça, aconteceu no Parque El Golfito, diante de uma multidão que assistia atônita à tentativa de assassinato. Mais um capítulo sombrio de uma tradição sangrenta: a eliminação física de opositores políticos em regimes de esquerda na América Latina.

Uribe Turbay é um dos principais nomes da oposição ao presidente Gustavo Petro, ex-guerrilheiro das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que trocou o fuzil pela urna, mas carrega consigo uma biografia marcada pelo autoritarismo, conivência com o narcotráfico e alianças nebulosas. Agora, seu governo é colocado sob os holofotes — não apenas por incapacidade de proteger seus adversários, mas pela sombra da suspeita de cumplicidade indireta com práticas que o passado não consegue sepultar.

Uribe é adversário do atual presidente Gustavo Petro - Foto: Reprodução

O atentado

Segundo relatos iniciais, um atirador menor de idade se aproximou pelas costas do senador e disparou três vezes à queima-roupa, atingindo ao menos um tiro na região da nuca. A rápida reação da equipe de segurança impediu algo ainda pior: o criminoso também foi alvejado e levado ao hospital. Uribe Turbay, inicialmente inconsciente e em estado grave, foi estabilizado e está consciente, segundo nota da equipe médica. Ainda assim, seu quadro inspira cuidados.

Nenhuma prisão foi formalmente confirmada, mas o suspeito está sob custódia médica. Até o momento, não há clareza sobre os mandantes, mas o contexto político e histórico da Colômbia não permite ingenuidade: os alvos preferenciais da bala quase sempre são os adversários do poder instalado.

Um nome marcado pela tragédia

Miguel Uribe Turbay é neto do ex-presidente Julio César Turbay Ayala (1978–1982) e filho da jornalista Diana Turbay, sequestrada e assassinada em 1990 por um grupo ligado ao Cartel de Medellín, de Pablo Escobar. O peso da violência política e do narcotráfico sempre orbitou sua vida. Agora, o golpe veio direto — e não por metáfora.

Ele é filiado ao partido Centro Democrático, do ex-presidente conservador Álvaro Uribe, inimigo histórico da esquerda armada colombiana. O Centro Democrático representa a linha dura contra o narcoterrorismo, o comunismo bolivariano e a política de conciliação com o crime. E por isso, é odiado pelos setores radicais da esquerda no poder.

A esquerda e sua dificuldade com a democracia

A história recente é clara: quando partidos de esquerda radical assumem o poder em repúblicas latino-americanas, opositores tendem a desaparecer — da mídia, das instituições e, não raramente, da vida. Do Venezuela de Chávez e Maduro, à Nicarágua de Ortega, passando por Cuba dos irmãos Castro, os paralelos são evidentes.

O caso de Miguel Uribe não pode ser tratado como episódio isolado ou criminalidade comum. É sintomático de uma tradição política violenta e do incômodo que a democracia representa para certos regimes quando ela ameaça virar o jogo.

Por que a esquerda tem dificuldade em enfrentar adversários nas urnas? Por que insiste em usar a bala onde deveria haver debate? Porque, em muitas dessas repúblicas populistas, o projeto de poder não aceita alternância — ele exige hegemonia.

E agora?

A Colômbia observa com angústia se o ataque será investigado com seriedade ou enterrado sob o protocolo do “lamentamos profundamente”. A oposição exige transparência, punição e segurança para seus líderes. Já os cidadãos colombianos — e toda a América Latina — observam até onde irá a escalada de violência que sempre espreita quando a ideologia vale mais que a vida.

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