Entre os escombros das instituições desacreditadas, das promessas políticas quebradas e das crises cíclicas que afetam o Brasil, um pilar resiste e, quando fortalecido, pode transformar a educação.
Em períodos de colapso político, é comum ouvirmos que “falta ética”, “falta caráter”, ou que “o povo não sabe votar”. Mas raramente olhamos para a raiz dessa desinformação crônica: um sistema educacional fragilizado, negligenciado e, muitas vezes, intencionalmente esvaziado.
Desde os anos 1990, o Brasil investe em ampliação de acesso à educação. De fato, houve avanços. O analfabetismo caiu de 20% (em 1991) para cerca de 6% da população em 2023, segundo o IBGE. Mas o acesso não significa qualidade. Em 2022, o IDEB mostrou que mais da metade dos estudantes do 5º ano do ensino fundamental não compreendiam plenamente o que liam, e a situação é ainda mais alarmante nas regiões mais pobres do país.
No Piauí, por exemplo, o contraste é evidente. Mesmo com avanços em alfabetização e taxas crescentes de escolarização, o estado ainda convive com graves deficiências estruturais: escolas com infraestrutura precária, alta rotatividade de professores e escassez de recursos didáticos, sobretudo no interior. Segundo levantamento da Undime-PI (2023), mais de 40% das escolas públicas do estado não possuem bibliotecas e laboratórios de ciências. Como ensinar pensamento crítico sem acesso básico ao conhecimento?
Essa fragilidade educacional não é acidental. Em sociedades onde a política se tornou espetáculo e a cidadania, mero voto, a ignorância é funcional. Um povo mal formado questiona pouco, exige menos e é mais facilmente manipulado por slogans, medos e promessas vazias.
O problema se agrava quando se observa que no Piauí há mais pessoas dependentes de programas sociais do que trabalhadores com carteira assinada. Como já citado em matérias anteriores desta colunista que vos fala. Qualquer política pública que promete alívio imediato, mesmo que paliativo, pode se sobrepor ao desejo por mudanças estruturais, como a reforma do sistema educacional.
É justamente por isso que a educação de qualidade se torna o antídoto mais poderoso contra o colapso político. Uma escola que ensina a pensar é mais perigosa para um sistema corrupto do que qualquer marcha nas ruas. Cidadãos educados entendem seus direitos, compreendem suas responsabilidades e percebem que política não se limita às eleições. Vai além: está na merenda escolar, no ônibus que atrasa, na água que não chega, na creche que falta.
Investir em educação não é caridade. É uma estratégia de soberania nacional. Países que saíram de situações de guerra, como Coreia do Sul, Finlândia e Vietnã, só se reergueram com base em massivos investimentos em educação pública e valorização do magistério.
Enquanto a política se desmancha entre escândalos e narrativas de ódio, a educação permanece como a ferramenta mais concreta e silenciosa de reconstrução. A elite brasileira há muito tempo entendeu o poder da educação. Seus filhos estudam em escolas bilíngues, com currículo internacional, acesso à arte, filosofia e debates. Já a maioria da população no Piauí e em tantos outros estados é empurrada para escolas sucateadas, com professores mal pagos e jornadas exaustivas. Não é coincidência. É projeto.
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