O ex-deputado Roberto Jefferson voltou para casa. Mas não se engane: está longe de estar livre. Cumpre prisão domiciliar humanitária, uma concessão feita por causa do seu estado de saúde debilitado. No entanto, a medida vem com regras duríssimas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que parecem ter como objetivo silenciá-lo por completo - não apenas restringi-lo.
Jefferson não pode:
Usar redes sociais;
Conceder entrevistas;
Receber visitas, exceto familiares e advogados;
Sair do país - seu passaporte está suspenso.
Trata-se de uma prisão física e política, ainda que entre quatro paredes domésticas. O recado do STF é claro: com Jefferson, a régua é rígida. Mas será que essa mesma rigidez vale para todos?
As limitações não são aleatórias. Jefferson foi preso em 2021 por atacar os Poderes da República e o processo eleitoral, com vídeos em que portava armas e incitava violência contra ministros do STF. Depois, mesmo em prisão domiciliar, descumpriu ordens e voltou a ofender magistrados - por meio do perfil da filha.
Com isso, voltou para o regime fechado. Agora, com nova autorização para ficar em casa, Moraes impôs um pacote de contenção completo, em que qualquer infração - uma live, uma visita, uma postagem - pode mandá-lo de volta para trás das grades.
Mas aqui surge o contraste incômodo: outros réus, acusados de atos graves, parecem contar com um tratamento mais brando ou até benevolente. Por quê? O que justifica tamanha diferença na régua de julgamento?
Mesmo fisicamente debilitado, Jefferson continua sendo politicamente incômodo. Sua retórica radical e sua influência sobre setores extremistas ainda são levadas a sério. O STF vê nele uma ameaça simbólica à estabilidade democrática.
Mas a pergunta que se impõe é: o STF age com o mesmo rigor com todos que ameaçam a democracia? Ou existe uma linha invisível que separa os que podem falar livremente - mesmo mentindo, distorcendo, incitando - e os que precisam ser silenciados de forma total?
Sim. Jefferson foi condenado pelo STF a nove anos de prisão por incitar ataques contra os Poderes. Ainda responde por outro processo, desta vez por atirar contra policiais federais. Portanto, a prisão domiciliar não apaga sua ficha criminal - é apenas uma medida emergencial e revogável a qualquer momento.
A decisão de Moraes tem defensores - muitos a consideram necessária para coibir o extremismo e restaurar o equilíbrio institucional. Mas também levanta a suspeita de que a Justiça brasileira tem alvos preferenciais. Roberto Jefferson é um deles. Contra ele, tudo; para outros, o benefício da dúvida.
Essa diferença de tratamento alimenta a sensação de parcialidade, o que enfraquece, ironicamente, a própria confiança no sistema que se pretende proteger.
Roberto Jefferson está confinado, silenciado e despolitizado à força. É o preço - justo ou não - que a Justiça decidiu cobrar por seu histórico de confrontos e provocações. O problema é que essa Justiça não parece cobrar o mesmo de todos.
Se o objetivo é restaurar o equilíbrio institucional, a régua do STF precisa medir com a mesma firmeza todos os extremos. Do contrário, o que se apresenta como defesa da democracia pode ser interpretado como instrumento político.
E nisso, a democracia perde de novo.
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