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Justiça PRISÃO DOMICILIAR

Roberto Jefferson está em casa, mas continua preso - e a dureza do STF parece ter alvo certeiro

Com tornozeleira no pé e mordaça na boca, Jefferson cumpre pena em casa sob regras que expõem uma Justiça seletiva — dura com uns, flexível com outros

11/05/2025 às 20h02 Atualizada em 11/05/2025 às 22h54
Por: Douglas Ferreira
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Roberto Jefferson continua literalmente preso mesmo em casa - Foto: Reprodução
Roberto Jefferson continua literalmente preso mesmo em casa - Foto: Reprodução

Um prisioneiro fora da cela

O ex-deputado Roberto Jefferson voltou para casa. Mas não se engane: está longe de estar livre. Cumpre prisão domiciliar humanitária, uma concessão feita por causa do seu estado de saúde debilitado. No entanto, a medida vem com regras duríssimas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que parecem ter como objetivo silenciá-lo por completo - não apenas restringi-lo.

Jefferson não pode:

  • Usar redes sociais;

  • Conceder entrevistas;

  • Receber visitas, exceto familiares e advogados;

  • Sair do país - seu passaporte está suspenso.

Trata-se de uma prisão física e política, ainda que entre quatro paredes domésticas. O recado do STF é claro: com Jefferson, a régua é rígida. Mas será que essa mesma rigidez vale para todos?

Por que tantas restrições?

As limitações não são aleatórias. Jefferson foi preso em 2021 por atacar os Poderes da República e o processo eleitoral, com vídeos em que portava armas e incitava violência contra ministros do STF. Depois, mesmo em prisão domiciliar, descumpriu ordens e voltou a ofender magistrados - por meio do perfil da filha.

Com isso, voltou para o regime fechado. Agora, com nova autorização para ficar em casa, Moraes impôs um pacote de contenção completo, em que qualquer infração - uma live, uma visita, uma postagem - pode mandá-lo de volta para trás das grades.

Mas aqui surge o contraste incômodo: outros réus, acusados de atos graves, parecem contar com um tratamento mais brando ou até benevolente. Por quê? O que justifica tamanha diferença na régua de julgamento?

Que risco Jefferson ainda representa?

Mesmo fisicamente debilitado, Jefferson continua sendo politicamente incômodo. Sua retórica radical e sua influência sobre setores extremistas ainda são levadas a sério. O STF vê nele uma ameaça simbólica à estabilidade democrática.

Mas a pergunta que se impõe é: o STF age com o mesmo rigor com todos que ameaçam a democracia? Ou existe uma linha invisível que separa os que podem falar livremente - mesmo mentindo, distorcendo, incitando - e os que precisam ser silenciados de forma total?


Ele ainda está condenado?

Sim. Jefferson foi condenado pelo STF a nove anos de prisão por incitar ataques contra os Poderes. Ainda responde por outro processo, desta vez por atirar contra policiais federais. Portanto, a prisão domiciliar não apaga sua ficha criminal - é apenas uma medida emergencial e revogável a qualquer momento.

Justiça ou exemplarismo seletivo?

A decisão de Moraes tem defensores - muitos a consideram necessária para coibir o extremismo e restaurar o equilíbrio institucional. Mas também levanta a suspeita de que a Justiça brasileira tem alvos preferenciais. Roberto Jefferson é um deles. Contra ele, tudo; para outros, o benefício da dúvida.

Essa diferença de tratamento alimenta a sensação de parcialidade, o que enfraquece, ironicamente, a própria confiança no sistema que se pretende proteger.

Conclusão: liberdade vigiada - mas só para alguns

Roberto Jefferson está confinado, silenciado e despolitizado à força. É o preço - justo ou não - que a Justiça decidiu cobrar por seu histórico de confrontos e provocações. O problema é que essa Justiça não parece cobrar o mesmo de todos.

Se o objetivo é restaurar o equilíbrio institucional, a régua do STF precisa medir com a mesma firmeza todos os extremos. Do contrário, o que se apresenta como defesa da democracia pode ser interpretado como instrumento político.

E nisso, a democracia perde de novo.

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