O PDT anunciou nesta semana que rompeu com o governo Lula na Câmara dos Deputados, mas o movimento está longe de significar uma ruptura real. Trata-se, segundo vozes dos bastidores de Brasília, de um “rompimento de fachada”: a bancada posa de independente, mas o partido segue ocupando ministério - com direito a nomeação de um aliado direto de Carlos Lupi, cuja demissão originou a suposta rebeldia.
A decisão unânime da bancada pedetista, liderada pelo deputado Mário Heringer (MG), ocorre após o afastamento de Lupi do Ministério da Previdência em meio a escândalos bilionários de fraudes no INSS. Para os deputados, a forma como o ex-ministro foi removido evidenciou o desgaste e a desconsideração do Planalto com o partido.
Mas, na prática, a “retaliação” é simbólica. O novo ministro da Previdência é Wolney Queiroz, que além de ser o número 2 da pasta, é homem de confiança de Lupi. Ou seja, o PDT continuou mandando no ministério, apenas trocou o crachá. Por isso, para analistas e líderes políticos, o movimento mais parece uma manobra de sobrevivência política do que uma dissidência real.
No Senado, o PDT continua firme na base aliada, o que reforça a tese de que o “rompimento” é limitado à Câmara - uma estratégia para pressionar o Planalto sem romper com as benesses do poder. Afinal, como costuma ocorrer no teatro político de Brasília, é possível atacar com o discurso e manter os cargos com a caneta.
Se o rompimento se consolidasse de fato, o governo Lula perderia 17 votos na Câmara, algo relevante em votações apertadas. Mas como o PDT decidiu adotar uma postura de "independência" - leia-se, voto conforme o interesse do momento -, o impacto direto na governabilidade ainda é incerto.
Na prática, Lula terá de negociar caso a caso com a bancada pedetista, que pode usar essa posição "autônoma" como moeda de troca. E o Planalto já está acostumado com esse tipo de jogo.
No fundo, o episódio mostra mais uma vez como a política brasileira é marcada por rompimentos performáticos e fidelidades negociáveis. O PDT não foi para a oposição, não entregou cargos e não rompeu no Senado. Apenas ensaiou uma dança nova no mesmo salão. No "looping" político do partido de Lupi, o script se repete: rompe-se com os holofotes, mas mantém-se no poder pelos bastidores.
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