Por trás das estatísticas que revelam o aumento da violência contra a mulher no Piauí, um nome ganha repercussão: Pedro Rocha Pereira e Farias, ex-companheiro de Gisele Claudino, mulher brutalmente assassinada dentro de casa, com mais de 20 perfurações no pescoço e tórax, em Teresina. Agora, ele enfrentará júri popular, após a juíza Maria do Socorro Rocha Cipriano declinar da competência do 1º Juizado de Violência Doméstica e enviar o caso para o Tribunal do Júri.
A decisão da magistrada é mais do que um trâmite processual: é o reconhecimento jurídico de que o caso se enquadra no mais grave tipo de crime doloso contra a vida - o feminicídio. Trata-se de um crime hediondo, cometido com crueldade extrema, motivado por ciúmes, posse e controle, ainda que a relação estivesse oficialmente encerrada. E isso diz muito sobre a sociedade em que vivemos.
Pedro Rocha não negou o crime. Pelo contrário, confessou que matou Gisele após vasculhar seu celular e descobrir que ela estaria conversando com outra pessoa. O argumento é frágil, mas comum em uma cultura que ainda normaliza o controle sobre o corpo, a vida e até a liberdade emocional da mulher. É o machismo em sua forma mais violenta, camuflado sob o véu da “reação passional”.
A remessa do caso ao Tribunal do Júri, onde sete cidadãos comuns decidirão o destino do réu, reforça o papel da sociedade na responsabilização desses crimes. Pedro Rocha vai sentar no banco dos réus, será julgado pelo povo e, se condenado, poderá pegar até 30 anos de prisão.
Mas o debate precisa ir além da punição. Precisamos falar sobre prevenção, sobre educação para a igualdade de gênero, sobre acesso a políticas públicas para mulheres em situação de risco. Gisele não foi a primeira, e infelizmente não será a última, se as estruturas que sustentam a violência de gênero não forem desmontadas.
O caso choca, revolta e dói - como tantos outros que, todos os dias, transformam lares em cenas de crime. A justiça precisa agir, sim. Mas a sociedade também precisa se responsabilizar. Porque Gisele poderia ser qualquer uma. E isso é insuportável.
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