A hospitalidade portuguesa tem limites - e eles foram oficialmente traçados. Neste 3 de maio, Portugal anunciou a notificação de 18 mil imigrantes para que deixem o país voluntariamente, sob pena de expulsão. A medida, drástica e politicamente sensível, escancara o colapso do sistema migratório português e a crescente insatisfação social com os efeitos da imigração desordenada.
Segundo o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, as primeiras 4.574 notificações serão enviadas nos próximos dias. Os estrangeiros terão até 20 dias para sair do território. Caso contrário, enfrentam deportação compulsória. A justificativa oficial é técnica: os imigrantes não atenderam aos critérios legais para residência, como apresentação de documentos, ausência de antecedentes criminais ou situação migratória regular em outros países.
Mas o momento da decisão fala por si. Faltam menos de duas semanas para as eleições legislativas em Portugal. E o endurecimento da política migratória surge como trunfo eleitoral da Aliança Democrática, coalizão de centro-direita que tenta manter o poder em meio a uma sociedade inquieta com o aumento da criminalidade, pressão sobre serviços públicos e impacto cultural da imigração em massa.
É uma medida que responde a um sentimento crescente entre os portugueses: o de que o país perdeu o controle sobre suas fronteiras. Nos últimos anos, o país virou destino preferencial para latino-americanos, africanos e refugiados do Oriente Médio. O sistema de acolhimento, poroso e mal gerido, chegou ao colapso. A Agência para a Imigração e Mobilidade (AIMA) tem hoje cerca de 400 mil processos acumulados, boa parte deles de brasileiros.
Não por acaso, os brasileiros devem ser duramente atingidos. Foram maioria nas manifestações de interesse que agora estão sendo rejeitadas. O sonho europeu começa a desmoronar para milhares que chegaram acreditando em legalização fácil e oportunidades abundantes — e agora encaram o risco real da expulsão.
O episódio também levanta dilemas profundos. A política migratória portuguesa, que já foi símbolo de acolhimento e integração, se transforma agora numa pauta de segurança e exclusão. A xenofobia institucionalizada - ainda que travestida de critérios legais - passa a ditar o ritmo de uma Europa cada vez mais fechada, temerosa e populista.
E o mais grave: medidas como essa, tomadas em contexto eleitoral, tendem a ser mais punitivas que razoáveis. Portugal não está apenas expulsando 18 mil imigrantes. Está também, simbolicamente, encerrando um ciclo de abertura, solidariedade e esperança.
Mín. 24° Máx. 35°