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Justiça CALOU POR QUÊ?

Silêncio que grita: o mandante de Marielle em casa, e a esquerda calada

Quando a verdade incomoda, até os mais ruidosos se calam. Domingos Brazão vai para casa, e a pergunta sobre Marielle perde voz

17/04/2025 às 11h11 Atualizada em 17/04/2025 às 11h30
Por: Douglas Ferreira
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De Lula a Anielle Franco o silêncio é ensurdecedor - Foto: Reprodução
De Lula a Anielle Franco o silêncio é ensurdecedor - Foto: Reprodução

Nunca antes na história recente do país a expressão "silêncio ensurdecedor" fez tanto sentido. O silêncio — agora conveniente — ecoa com força perturbadora, justamente quando o assunto é a decisão do ministro Alexandre de Moraes de colocar em prisão domiciliar, em sua confortável mansão, o homem acusado de ser o mandante do assassinato frio, bárbaro e covarde da ex-vereadora Marielle Franco.

Sim, Chiquinho Brazão, segundo a Polícia Federal, um dos cérebros por trás do crime que chocou o país e mobilizou os defensores dos direitos humanos mundo afora, está em casa. A justificativa? Questões de saúde. Mas quantos presos neste país — incluindo os envolvidos no 8 de janeiro — não têm o mesmo direito reconhecido? Quantos doentes mofam em presídios superlotados sem a mesma consideração?

A pergunta é direta: por que Chiquinho Brazão tem esse privilégio? O que torna sua saúde mais importante que a de milhares de outros detentos?

Mas o que talvez cause mais perplexidade não seja a decisão em si — que já é, por si só, um escândalo — mas o mutismo dos que, até bem pouco tempo, faziam da pergunta “Quem mandou matar Marielle?” um mantra. Políticos de esquerda, artistas, militantes, todos silenciaram. O caso parece ter perdido a utilidade ideológica agora que o mandante apontado não é da extrema direita, nem tem qualquer vínculo com Jair Bolsonaro. Ao contrário, os irmãos Brazão — Domingos e Chiquinho — têm histórico de alianças com setores do poder no Rio que sempre transitaram no campo da esquerda.

O constrangimento é evidente. A narrativa caiu. E o silêncio virou a única saída.

Até mesmo Anielle Franco, que emergiu da tragédia da irmã para o Ministério da Igualdade Racial no governo Lula, não disse uma única palavra sobre o episódio. Nenhuma nota, nenhum comentário, nenhum gesto. A mesma Anielle que se tornou símbolo político e institucional da memória de Marielle agora se cala diante da decisão que permite ao suposto mandante do crime gozar do conforto do lar. Um ministério vale esse silêncio?

A revolta acabou? A indignação evaporou? Foi sepultada junto com Marielle?

Quase uma semana após Moraes mandar Chiquinho Brazão para casa — o que se ouviu da militância ruidosa, da classe artística, dos influenciadores, dos deputados de bandeira vermelha? Nada. Nem mesmo um sussurro.

O caso revela um desconforto cruel: quando a verdade dos fatos não encaixa no roteiro ideológico, ela é simplesmente ignorada. O que importa, afinal, não é a justiça, mas quem se beneficia do discurso. A comoção foi seletiva. A moral, também.

E o povo que acompanhou por anos os desdobramentos do caso Marielle, que marchou, que acendeu velas, que exigiu respostas — agora assiste, perplexo, à traição silenciosa dos que se diziam guardiões da memória e da justiça.

A pergunta não mudou: Quem mandou matar Marielle?
Mas a resposta — agora que incomoda os de sempre — já não interessa tanto.

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