A recente proposta do governo para as regras do orçamento de 2026 estima que o salário mínimo passe para R$ 1.630, com efeito a partir de fevereiro do próximo ano. Esse reajuste, que representa um aumento real de R$ 112 – ou seja, 7,4% –, surge num cenário marcado pelo uso ostensivo do que alguns críticos chamam de “jus esperneandi”, ou seja, o direito de espernear politicamente para tentar recuperar a popularidade em queda do presidente Lula e de seu governo.
Além do reajuste do salário mínimo, o governo vem adotando medidas simultâneas que abrangem diferentes setores da economia e da política social:
Isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil: Um benefício que, segundo o governo, visa aliviar a carga tributária sobre a classe trabalhadora, mas que tem sido criticado como uma medida pontual e de apelo eleitoral.
Ampliação do FGTS para o Minha Casa, Minha Vida: A elevação do teto dos imóveis para R$ 500 mil e a criação de uma nova faixa de renda (até R$ 12 mil mensais) pretendem ampliar o acesso ao financiamento imobiliário para a classe média, que sofre com o aumento dos juros, inflação e custo de vida.
Essas medidas são apresentadas como parte de uma estratégia para reverter o descrédito do governo e restaurar a confiança do eleitorado, especialmente entre aqueles que, como o trabalhador assalariado, vivem os efeitos da inflação e do aumento dos custos públicos.
Apesar das promessas, há uma dúvida persistente: os benefícios oferecidos serão percebidos como verdadeiros avanços ou como manobras meramente eleitorais?
Do ponto de vista econômico: O aumento do salário mínimo é crucial para os quase 60 milhões de brasileiros que têm seus rendimentos ou benefícios atrelados a esse valor. Contudo, o impacto do reajuste deve ser analisado frente a um cenário de inflação persistente e desafios estruturais na economia.
Quanto à política: A expressão "jus esperneandi" resume a visão de que o governo tem se usado intensivamente do discurso de melhorias imediatas - como a isenção de IR e o incremento do Minha Casa, Minha Vida - para maquiar uma política que, em muitos aspectos, não resolve os problemas de fundo da política econômica. Essa abordagem pode ser recebida com ceticismo por um eleitorado já desiludido, que se pergunta se tais medidas vão, de fato, melhorar a qualidade de vida ou se tratarão apenas de manobras para reconquistar votos.
Em um cenário onde muitos se sentem abandonados pelo governo, o trabalhador que ganha salário mínimo pode olhar com receio para medidas que parecem mais voltadas ao acendimento de buzinas eleitorais do que à implementação de políticas estruturais de enfrentamento dos desafios inflacionários. Afinal, como diz o velho ditado, “gato escaldado tem medo de água fria”: a experiência amarga com promessas não cumpridas como a picanha que nunca veio, deixa o cidadão desconfiado de novas medidas, por mais boas que pareçam no papel.
Em resumo, embora a projeção de um aumento no salário mínimo e as demais medidas possam oferecer algum alívio pontual e beneficiar certos segmentos - especialmente os trabalhadores diretamente impactados - resta a dúvida se essas ações serão suficientes para restabelecer a confiança de um eleitorado cético, com motivos de sobre, e, mais importante, se contribuirão efetivamente para a estabilidade da economia e a geração de empregos. O desafio do governo, portanto, é superar a percepção de medidas puramente populistas e demonstrar resultados concretos que efetivamente frente aos desafios econômicos enfrentados pelo Brasil.
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