Que a intervenção cirúrgica do ex-presidente Jair Bolsonaro seria demorada, todos já sabiam. O próprio senador Rogério Marinho (PL-RN), aliado próximo, antecipou nas primeiras horas deste domingo (13) que o procedimento exigiria tempo. No entanto, o que ninguém esperava era que a operação ultrapassasse nove horas, provocando apreensão entre familiares, apoiadores e até mesmo dentro do núcleo político mais próximo do ex-presidente.
A cirurgia, realizada no Hospital DF Star, em Brasília, teve início por volta das 8h30 da manhã — com um pequeno atraso — e segue até o início da noite. O procedimento visa tratar uma suboclusão intestinal, ou seja, uma obstrução parcial do intestino que impede a passagem normal de gases e fezes, além de promover a reconstrução da parede abdominal. O problema é uma sequela das múltiplas cirurgias feitas após o atentado à faca sofrido por Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018.
Nas palavras do médico Cláudio Birolini, que acompanha o ex-presidente há anos, o quadro atual é o mais grave desde aquele episódio. Segundo ele, o intestino de Bolsonaro apresenta inúmeras aderências — tecido cicatricial que une partes do órgão —, o que torna a cirurgia mais complexa e minuciosa. O procedimento é feito de forma aberta, com risco considerável de perfuração, hemorragia ou infecção.
O médico Leandro Echenique, cirurgião responsável pela operação, confirmou que a escolha pelo procedimento cirúrgico foi motivada pela ineficácia das medidas clínicas adotadas anteriormente, como jejum, descompressão gástrica, uso de sonda e hidratação intravenosa. A decisão pela cirurgia foi inevitável diante da gravidade do quadro.
Apesar da extensão da intervenção, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmou nas redes sociais que os sinais clínicos permanecem estáveis e que os marcadores vitais estão normais. Ela reforçou que os únicos canais confiáveis sobre o estado de saúde do ex-presidente são o seu próprio perfil, o dos filhos de Bolsonaro e o do Partido Liberal.
A longa duração da cirurgia, somada ao histórico delicado de saúde de Bolsonaro, levou dezenas de apoiadores a se reunirem em vigília na porta do hospital em Brasília. Líderes políticos como o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e o pastor Silas Malafaia também manifestaram preocupação, mas mantêm discurso de confiança na recuperação.
Além da complexidade médica, o episódio reacende um debate recorrente na política brasileira: até que ponto as sequelas do atentado de 2018 ainda impactam o presente e o futuro político de Jair Bolsonaro? Ele segue como uma das figuras mais polarizadoras do país, e qualquer sinal de fragilidade gera ondas de especulação sobre sua saúde e sua capacidade de disputar cargos públicos novamente.
Por ora, o que se sabe é que o procedimento deve se estender por mais algumas horas, e Bolsonaro seguirá internado sob observação. Ainda não há previsão oficial de alta, mas a equipe médica já confirmou que o pós-operatório exigirá cuidados intensivos e repouso absoluto.
A cirurgia é mais um capítulo de uma história política que há muito se confunde com uma batalha pessoal pela sobrevivência. A dúvida que permanece no ar, no entanto, é: quantas vezes mais o corpo — e a trajetória política — de Jair Bolsonaro aguentará passar por provas tão duras?
Mín. 24° Máx. 36°