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Saúde EFEITO FACADA 2018

Entre orações e incertezas: novo episódio intestinal reacende preocupação com a saúde de Bolsonaro

Internação em Natal revela fragilidade crônica do ex-presidente, enquanto seguidores se mobilizam em orações e médicos avaliam risco de nova cirurgia

11/04/2025 às 13h47 Atualizada em 11/04/2025 às 14h12
Por: Douglas Ferreira
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O médico Antonio Macedo está em sintonia com a equipe médica que acompanha Bolsonaro em Natal - Foto: Reprodução
O médico Antonio Macedo está em sintonia com a equipe médica que acompanha Bolsonaro em Natal - Foto: Reprodução

O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a ser internado nesta sexta-feira (11), desta vez no Hospital Rio Grande, em Natal (RN), após passar mal durante agenda partidária no interior do Estado. O episódio reacende não apenas as preocupações com a saúde debilitada do ex-mandatário, mas também a memória de um trauma que moldou sua trajetória política: a facada sofrida em 2018.

Bolsonaro apresentou sintomas de uma condição conhecida como "abdômen agudo", caracterizada por dor intensa e alteração do funcionamento intestinal. Segundo o cirurgião Antonio Macedo - médico que acompanha o ex-presidente desde o atentado em Juiz de Fora - o caso ainda não é considerado grave, mas a hipótese de uma nova cirurgia não está descartada. Ele afirma que o quadro pode ter relação com sequelas antigas, como obstruções e aderências nas alças intestinais, resultado direto da facada que o então candidato sofreu há quase sete anos.

“A região intestinal foi a mais atingida no atentado de 2018. Ele tem uma fragilidade ali que exige vigilância constante. O funcionamento do intestino é o principal indicador da necessidade de cirurgia”, afirmou Macedo.

A chegada de Bolsonaro ao Hospital Rio Grande em Natal - Foto: Reprodução

Suspensão de dieta e vigilância constante

Bolsonaro foi inicialmente atendido em Santa Cruz, a 119 km da capital potiguar, onde já apresentava sinais de obstrução. De lá, seguiu em ambulância até o estádio da cidade, onde embarcou em um helicóptero da Secretaria de Segurança Pública do RN - cedido por ordem da governadora Fátima Bezerra (PT) - até Natal. No hospital, a primeira medida médica foi suspender a dieta oral. Isso indica tentativa de conter o processo de distensão abdominal sem intervenção cirúrgica imediata.

Ainda segundo Macedo, o acompanhamento continuará por pelo menos 48 horas. Somente após esse período será possível determinar se a resposta clínica aos medicamentos será suficiente ou se haverá necessidade de cirurgia.

Mobilização popular e capital político

Em um gesto que mistura fé, apoio político e devoção, apoiadores se concentraram em frente ao hospital em Natal e também em Santa Cruz, onde rezaram e prestaram solidariedade ao ex-presidente. As imagens revelam o quanto Bolsonaro, mesmo fora do poder, ainda desperta mobilização popular espontânea, sobretudo no Nordeste, onde historicamente enfrentou maior resistência eleitoral.

Apesar do desgaste político provocados pela persecusão do Judiciário, Bolsonaro mantém um núcleo fiel de seguidores que o veem como vítima de um sistema que tenta silenciá-lo - inclusive por meio de seus problemas de saúde. Episódios como esse reforçam a narrativa de um “guerreiro sobrevivente” que, mesmo debilitado, continua a resistir.

A interrogação cirúrgica e o jogo político

A permanência de Bolsonaro em Natal e a possível ida de Macedo ao Estado mostram que o quadro, embora estável, não é trivial. Cirurgias abdominais são sempre de alto risco, ainda mais em pacientes com múltiplas intervenções anteriores.

Não há, por ora, confirmação sobre o tempo de internação, nem sobre um eventual deslocamento do ex-presidente para São Paulo, onde normalmente é tratado. A decisão dependerá das próximas horas.

Ao mesmo tempo, a situação abre margem para leituras políticas: a ausência forçada pode afastá-lo temporariamente do epicentro do debate sobre a anistia dos atos golpistas de 8 de janeiro - tema que volta a ganhar força em Brasília. Mas, paradoxalmente, também pode fortalecê-lo no campo simbólico, reacendendo o discurso do homem que resiste não apenas às investigações, mas às próprias limitações físicas impostas por um atentado que virou capítulo central de sua biografia.

Entrevista coletiva da equipe médica

Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (11), o cirurgião Hélio Barreto e o diretor-geral do Hospital Rio Grande, Luiz Roberto Fonseca, informaram que o ex-presidente Jair Bolsonaro apresenta uma condição de distensão abdominal associada a uma semioclusão intestinal, mas, até o momento, sem necessidade de cirurgia. “Ele tem uma distensão abdominal, uma condição de semioclusão intestinal [...] Após as medidas clínicas, a analgesia, passagem de sonda nasogástrica, melhorou a condição clínica dele, o que tira ele da condição de urgência”, explicou Barreto, destacando que Bolsonaro segue em dieta zero e sob observação contínua.

Fonseca confirmou que um andar inteiro do hospital foi reservado por razões de segurança e que Bolsonaro “não tem condições de alta”, embora tenha evoluído de um quadro de emergência para uma situação clínica mais estável. “A prerrogativa do cargo impõe esse tipo de medida sem nenhum prejuízo ao funcionamento do hospital”, justificou. O diretor acrescentou que o tratamento atual inclui hidratação e reposição de eletrólitos, e que “não há sinais clínicos que falem a favor de um abdômen agudo destrutivo ou infeccioso que imponha a necessidade de intervenção cirúrgica no momento”.

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