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Economia O 'X' DA QUESTÃO

Por que o brasileiro trabalha tanto e produz tão pouco?

A anatomia de uma estagnação: como educação falha, infraestrutura precária, má gestão e baixa digitalização mantêm o país preso a um ciclo de esforço improdutivo.

10/04/2025 às 09h27 Atualizada em 10/04/2025 às 13h37
Por: Douglas Ferreira
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Apesar dos esforços o trabalhador brasileiros produz apenas um quarto do americano - Foto: Reprodução
Apesar dos esforços o trabalhador brasileiros produz apenas um quarto do americano - Foto: Reprodução

"Trabalha feito burro de carga" - o ditado, embora cruel, toca num ponto delicado da realidade brasileira. O esforço é enorme, mas o resultado, pífio. Enquanto o americano produz um dólar de valor agregado em 15 minutos, o brasileiro leva uma hora inteira para alcançar o mesmo. Como explicar esse descompasso abismal?


O retrato da baixa produtividade brasileira

Segundo o relatório de 2024 do Conference Board, a produtividade média do trabalhador brasileiro é de apenas 23,5% da de um americano. Isso significa que, em termos de valor gerado por hora de trabalho, o brasileiro entrega menos de um quarto do que um trabalhador dos EUA.

O problema não está na preguiça ou falta de esforço - o brasileiro trabalha mais horas por semana do que alemães e italianos, por exemplo. A falha está na engrenagem: educação deficiente, infraestrutura capenga, burocracia sufocante e gestão despreparada criam um ambiente onde o esforço se perde no caminho.


Educação: a base frágil da pirâmide

Não basta aumentar os anos de escolaridade - é preciso que o conteúdo ensinado prepare o aluno para o mundo real e tecnológico. Enquanto o americano sai do ensino médio apto a operar sistemas digitais e lidar com automação, o brasileiro muitas vezes sai com dificuldades básicas em matemática e interpretação de texto.

  • Anos de estudo: Brasil (8,1) x EUA (12+)

  • Ensino técnico defasado e universidades desconectadas do mercado

  • A formação não acompanha a complexidade das demandas produtivas modernas

Resultado: mesmo com mais gente se formando, a produtividade não sobe - porque o ensino forma diplomas, mas não necessariamente competências.


Infraestrutura precária: produtividade presa no atoleiro

Produzir mais requer eficiência em toda a cadeia: estradas, portos, energia, logística, conectividade. Mas o Brasil perde bilhões por ano com gargalos logísticos.

  • Caminhões que demoram o dobro do tempo para escoar mercadorias

  • Falta de conectividade digital no interior

  • Energia cara e instável

Empresas gastam tempo e dinheiro apenas para fazer o básico, como transportar ou armazenar mercadorias. Tempo perdido = produtividade evaporada.


Gestão ruim: o chefe que atrapalha o time

Um estudo do World Management Survey mostrou que 18% das empresas brasileiras têm liderança despreparada, contra 2% nos EUA. Ou seja, quase um quinto das empresas opera com gestores que não sabem alocar, treinar ou liderar seus times.

Esses líderes:

  • Não otimizam processos

  • Ignoram inovação tecnológica

  • Contratam mal e demitem tarde

  • Criam ambientes tóxicos ou ineficazes

A consequência é força de trabalho subaproveitada - bons profissionais produzindo pouco por conta de decisões ruins no topo.


Tecnologia ignorada ou mal utilizada

Automação, inteligência artificial, softwares de gestão - tudo isso pode multiplicar a produtividade. Mas no Brasil:

  • Falta acesso à tecnologia em pequenas e médias empresas

  • Falta formação para usar e adaptar essas ferramentas

  • Falta visão estratégica das lideranças para implementá-las

O resultado? Uma economia onde a tecnologia existe, mas não é absorvida - como ter uma Ferrari na garagem sem saber dirigir.


Saúde, ambiente e informalidade: os sabotadores silenciosos

A produtividade também depende de fatores "invisíveis":

  • Saúde física e mental: trabalhadores adoecem por excesso de jornada, má alimentação ou estresse

  • Ambiente de trabalho ruim: calor extremo, barulho, insalubridade

  • Informalidade: cerca de 40% da força de trabalho atua sem carteira assinada, sem acesso a treinamentos, benefícios ou estabilidade

Tudo isso impacta diretamente a capacidade de entrega.


É possível reverter esse quadro?

Sim, mas exige uma mudança estrutural e coordenada:

Educação de verdade

  • Reformar o ensino básico com foco em habilidades cognitivas e digitais

  • Expandir e modernizar o ensino técnico

  • Formar lideranças com soft skills e visão estratégica

Infraestrutura e desburocratização

  • Investimento em logística, conectividade e energia

  • Reforma tributária que incentive a produção, não a penalize

  • Redução da complexidade legal e regulatória

Gestão profissionalizada

  • Treinamento de líderes para gestão moderna e colaborativa

  • Cultura organizacional que premie eficiência e inovação

  • Atração de talentos com ambientes saudáveis e horizontais

Tecnologia com propósito

  • Democratizar o acesso à automação e IA

  • Formação para que o trabalhador use bem essas ferramentas

  • Políticas públicas que incentivem a digitalização das PMEs


Conclusão: o Brasil precisa produzir com inteligência, não com suor

A baixa produtividade não é um destino inevitável - é o reflexo de más escolhas políticas, educacionais e empresariais. Enquanto o trabalhador brasileiro carrega o peso nas costas, o sistema o impede de andar mais rápido. O caminho para a virada está traçado: educação de qualidade, gestão eficiente, infraestrutura moderna e tecnologia acessível.

O dia em que o Brasil conseguir transformar esforço em resultado será o dia em que deixará de ser o país do futuro - e finalmente será o país do presente.

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A NOTÍCIA E O FATO
A NOTÍCIA E O FATO
Sobre Douglas Ferreira é multimídia. Além de jornalista, é bacharel em Direito. Foi repórter da TV Clube, afiliada da Rede Globo, por 10 anos e, em Caxias, no Maranhão, apresentou o programa “Fala Caxias”. Fundou e dirigiu por seis anos a Folha do Cocais. Foi secretário de Comunicação da Prefeitura de Caxias e retornou a Teresina como âncora da TV Meio Norte. Por 20 anos, reportou e apresentou na TV Antena 10, afiliada da Record. Também foi assessor de imprensa do Tribunal de Justiça do Piauí e passou por rádios e pelos maiores portais do Estado. Sua vida é o jornalismo. No Sistema Move de Comunicação, foi editor do Portal Move Notícias e apresentador do Business Cast, do canal movetvweb no YouTube. Agora, está à frente do Gazeta Hora1.
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