"Trabalha feito burro de carga" - o ditado, embora cruel, toca num ponto delicado da realidade brasileira. O esforço é enorme, mas o resultado, pífio. Enquanto o americano produz um dólar de valor agregado em 15 minutos, o brasileiro leva uma hora inteira para alcançar o mesmo. Como explicar esse descompasso abismal?
Segundo o relatório de 2024 do Conference Board, a produtividade média do trabalhador brasileiro é de apenas 23,5% da de um americano. Isso significa que, em termos de valor gerado por hora de trabalho, o brasileiro entrega menos de um quarto do que um trabalhador dos EUA.
O problema não está na preguiça ou falta de esforço - o brasileiro trabalha mais horas por semana do que alemães e italianos, por exemplo. A falha está na engrenagem: educação deficiente, infraestrutura capenga, burocracia sufocante e gestão despreparada criam um ambiente onde o esforço se perde no caminho.
Não basta aumentar os anos de escolaridade - é preciso que o conteúdo ensinado prepare o aluno para o mundo real e tecnológico. Enquanto o americano sai do ensino médio apto a operar sistemas digitais e lidar com automação, o brasileiro muitas vezes sai com dificuldades básicas em matemática e interpretação de texto.
Anos de estudo: Brasil (8,1) x EUA (12+)
Ensino técnico defasado e universidades desconectadas do mercado
A formação não acompanha a complexidade das demandas produtivas modernas
Resultado: mesmo com mais gente se formando, a produtividade não sobe - porque o ensino forma diplomas, mas não necessariamente competências.
Produzir mais requer eficiência em toda a cadeia: estradas, portos, energia, logística, conectividade. Mas o Brasil perde bilhões por ano com gargalos logísticos.
Caminhões que demoram o dobro do tempo para escoar mercadorias
Falta de conectividade digital no interior
Energia cara e instável
Empresas gastam tempo e dinheiro apenas para fazer o básico, como transportar ou armazenar mercadorias. Tempo perdido = produtividade evaporada.
Um estudo do World Management Survey mostrou que 18% das empresas brasileiras têm liderança despreparada, contra 2% nos EUA. Ou seja, quase um quinto das empresas opera com gestores que não sabem alocar, treinar ou liderar seus times.
Esses líderes:
Não otimizam processos
Ignoram inovação tecnológica
Contratam mal e demitem tarde
Criam ambientes tóxicos ou ineficazes
A consequência é força de trabalho subaproveitada - bons profissionais produzindo pouco por conta de decisões ruins no topo.
Automação, inteligência artificial, softwares de gestão - tudo isso pode multiplicar a produtividade. Mas no Brasil:
Falta acesso à tecnologia em pequenas e médias empresas
Falta formação para usar e adaptar essas ferramentas
Falta visão estratégica das lideranças para implementá-las
O resultado? Uma economia onde a tecnologia existe, mas não é absorvida - como ter uma Ferrari na garagem sem saber dirigir.
A produtividade também depende de fatores "invisíveis":
Saúde física e mental: trabalhadores adoecem por excesso de jornada, má alimentação ou estresse
Ambiente de trabalho ruim: calor extremo, barulho, insalubridade
Informalidade: cerca de 40% da força de trabalho atua sem carteira assinada, sem acesso a treinamentos, benefícios ou estabilidade
Tudo isso impacta diretamente a capacidade de entrega.
Sim, mas exige uma mudança estrutural e coordenada:
Reformar o ensino básico com foco em habilidades cognitivas e digitais
Expandir e modernizar o ensino técnico
Formar lideranças com soft skills e visão estratégica
Investimento em logística, conectividade e energia
Reforma tributária que incentive a produção, não a penalize
Redução da complexidade legal e regulatória
Treinamento de líderes para gestão moderna e colaborativa
Cultura organizacional que premie eficiência e inovação
Atração de talentos com ambientes saudáveis e horizontais
Democratizar o acesso à automação e IA
Formação para que o trabalhador use bem essas ferramentas
Políticas públicas que incentivem a digitalização das PMEs
A baixa produtividade não é um destino inevitável - é o reflexo de más escolhas políticas, educacionais e empresariais. Enquanto o trabalhador brasileiro carrega o peso nas costas, o sistema o impede de andar mais rápido. O caminho para a virada está traçado: educação de qualidade, gestão eficiente, infraestrutura moderna e tecnologia acessível.
O dia em que o Brasil conseguir transformar esforço em resultado será o dia em que deixará de ser o país do futuro - e finalmente será o país do presente.
Mín. 24° Máx. 36°