O governador Rafael Fonteles tem se destacado por anunciar investimentos bilionários em diversas áreas, sempre com números grandiosos que, na prática, pouco se materializam. Sua mais recente promessa gira em torno do hidrogênio verde, com a afirmação de que o Piauí receberá o maior investimento do planeta nesse setor: R$ 27 bilhões em uma planta localizada na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba. Mas diante de tantos anúncios espetaculares, é inevitável questionar: essa projeção tem lastro na realidade ou não passa de mais um discurso triunfalista sem base concreta?
Uma pesquisa rápida sobre os investimentos em hidrogênio verde no Brasil revela um cenário diferente. Estados como Bahia e Ceará já estão em estágios avançados na construção de suas plantas industriais. A Bahia, por exemplo, tem um projeto de escala industrial avaliado em R$ 9 bilhões, muito abaixo do valor estratosférico anunciado pelo governador do Piauí. Somando-se todos os investimentos anunciados no Brasil para esse setor, a cifra atinge R$ 188 bilhões. Assim, se Fonteles estiver certo, seu projeto isolado representaria 14,36% de todo o investimento nacional, um percentual que beira o inverossímil.
A grandiosidade do anúncio não se traduz em progresso imediato. O Brasil já conta com iniciativas concretas no setor: a Petrobras investiu R$ 90 milhões na construção de uma planta piloto no Rio Grande do Norte, enquanto a Furnas inaugurou a primeira fábrica de hidrogênio verde do país em 2021. Além disso, instituições como a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também possuem unidades experimentais. No entanto, nenhuma dessas iniciativas foi acompanhada de promessas de cifras tão exorbitantes quanto as anunciadas por Fonteles.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, assinou a resolução autorizando a instalação do projeto, destacando que será a maior iniciativa já aprovada para uma ZPE no Brasil. Mas, enquanto isso, faltam detalhes concretos sobre cronograma, financiamento e viabilidade real do empreendimento. A planta, que promete gerar 3 mil empregos diretos e indiretos, ainda precisa passar pela análise do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), etapa que pode demorar anos e exigir investimentos adicionais.
O Piauí tem um potencial real para se destacar no setor de energias renováveis, especialmente devido à sua abundância de recursos naturais, como vento e luz solar. No entanto, a repetição de anúncios monumentais sem resultados palpáveis desgasta a credibilidade do governo e levanta dúvidas sobre a verdadeira intenção dessas promessas. Será que este será mais um projeto grandioso que nunca sairá do papel, como tantos outros no histórico recente do Piauí? A exemplo do Porto que de porto mesmo ainda não tem nada?
Até que os primeiros tijolos sejam colocados, o discurso de Fonteles continua sendo mais um jogo de números impressionantes do que uma realidade concreta. O povo piauiense está cansado de promessas e precisa de algo tangível, enquanto os políticos investem em pirotecnia midiática efêmera
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