A recente polêmica envolvendo o deputado Eduardo Bolsonaro trouxe à tona uma questão já conhecida no cenário político brasileiro: a seletividade da mídia e do Judiciário ao tratar casos semelhantes de forma distinta, de acordo com as conveniências políticas. O episódio remete a 2018, quando a então senadora e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, gravou um vídeo para a rede de TV Al Jazeera denunciando que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria um "preso político" no Brasil. O objetivo da prisão, segundo Gleisi, era impedir a candidatura de Lula nas eleições daquele ano.
No vídeo, a senadora afirmava que a condenação de Lula havia sido conduzida por "juízes parciais num processo ilegal", sem provas concretas, e que a TV Globo liderava uma campanha de mentiras contra o ex-presidente, pressionando o Judiciário a não conceder sua liberdade. Gleisi ainda reforçava que a prisão de Lula era a continuidade do "golpe" que começou em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, e que a política externa brasileira havia sido subordinada aos interesses dos Estados Unidos.
Na época, a postura da senadora não foi alvo de ataques da grande mídia, do Supremo Tribunal Federal (STF) ou da oposição. Nenhuma acusação de traição à pátria ou de atentado à soberania nacional foi levantada contra a parlamentar, apesar de suas declarações serem feitas em um canal internacional e colocarem em xeque a legitimidade das instituições brasileiras. Pelo contrário, Gleisi pôde expor seu posicionamento livremente sem sofrer qualquer tipo de represália institucional.
Agora, quando Eduardo Bolsonaro faz críticas à condução do Judiciário brasileiro e busca apoio internacional, imediatamente se levanta uma onda de indignação e acusações. O deputado vem sendo acusado de tentar desestabilizar o STF e de conspirar contra a soberania do país. Essa reação desproporcional expõe a hipocrisia de setores da esquerda, que flexibilizam seus princípios conforme suas necessidades políticas.
Além disso, parlamentares petistas, como Lindbergh Farias, PR/RJ, e a própria Gleisi Hoffmann, não escondem que articulam nos bastidores do Judiciário para pressionar e perseguir adversários políticos, algo que deveria ser motivo de preocupação democrática. Essa seletividade escancara um padrão já consolidado no Brasil: enquanto figuras alinhadas à esquerda podem questionar as instituições e até buscar apoio externo sem consequências, qualquer tentativa similar vinda da direita é tratada como ameaça à democracia.
O caso Eduardo Bolsonaro pode até não ter desdobramentos concretos no curto prazo, mas certamente trouxe visibilidade para a atuação do STF e para os abusos de poder que vêm sendo denunciados por parte da sociedade. A exposição internacional da chamada "ditadura da toga" pode levar a um debate mais profundo sobre os limites da atuação do Judiciário e sua influência no jogo político.
A grande questão que fica é: até quando a seletividade e a hipocrisia política vão permanecer impunes? O que é permitido para uns deve ser permitido para todos. Do contrário, não há democracia, mas sim um sistema de conveniência.
Confira o vídeo:
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