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Justiça SEM COMPARAÇÃO

A injusta comparação entre Janja e Darcy Vargas expõe parcialidade do PGR

Ao arquivar ação contra Janja e compará-la à discreta e respeitada Darcy Vargas, o procurador-geral Paulo Gonet causou indignação. A decisão veio logo após a denúncia contra Bolsonaro, reforçando suspeitas de seletividade no Ministério Público.

16/03/2025 às 10h22 Atualizada em 16/03/2025 às 10h51
Por: Douglas Ferreira
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Janja no dia em que protagonizou um cena dantesca ao soltar sua verborragia contra Elon Musk - Foto: Reprodução
Janja no dia em que protagonizou um cena dantesca ao soltar sua verborragia contra Elon Musk - Foto: Reprodução

A decisão do procurador-geral da República, Paulo Gonet, de arquivar a ação contra a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, foi recebida com espanto e revolta por grande parte da sociedade e da oposição. O motivo principal da ação era o protagonismo exacerbado de Janja, que tem extrapolado o papel institucional de primeira-dama, participando de encontros políticos e representando o Brasil em eventos internacionais como se fosse autoridade governamental. No entanto, o que mais chocou foi a justificativa utilizada pelo PGR para encerrar o caso: a comparação entre Janja e a ex-primeira-dama Darcy Vargas.

A tentativa de equivalência entre as duas figuras foi vista como um ultraje histórico. Darcy Vargas, esposa de Getúlio Vargas, marcou seu tempo como uma mulher reservada, mas influente nos bastidores, sempre mantendo a compostura e a discrição que o cargo de primeira-dama exige. Seu legado foi construído em bases sólidas de filantropia e assistência social, com a criação de instituições como a Fundação Darcy Vargas e a Legião Brasileira de Assistência (LBA). Estas iniciativas foram responsáveis por transformar a vida de milhares de brasileiros carentes, consolidando o papel da primeira-dama como uma agente do bem-estar social.

Janja, por outro lado, tem se notabilizado por uma postura polêmica e intervencionista. Desde o início do governo de seu marido, tem se envolvido diretamente em assuntos políticos, ocupando espaços que, constitucionalmente, não lhe cabem. Seu ativismo constante e suas declarações controversas frequentemente colocam o governo em situações embaraçosas, distanciando-se do perfil institucional que se espera de uma primeira-dama. Além disso, Janja tem sido alvo de críticas por seu elevado custo para os cofres públicos, usufruindo de viagens internacionais, em primeira classe, sempre acompanhada por um séquito de engraxadoes, participando de eventos oficiais com uma influência que vai muito além do permitido pelo protocolo.

A comparação entre Janja e Darcy Vargas não se sustenta em nenhum aspecto. Enquanto Janja busca protagonismo e está sempre sob os holofotes da mídia, Darcy Vargas era uma mulher conciliadora, que entendia seu papel como parceira do presidente e não como sua substituta. Darcy atuava nos bastidores, promovendo assistência social e projetos que realmente beneficiavam a população, sem nunca tentar interferir nas decisões políticas do governo. Seu trabalho assistencial, inclusive, a fez entrar para a história pela porta da frente, sendo lembrada com respeito e admiração até os dias de hoje.

No Brasil, o papel da primeira-dama nunca foi formalmente regulamentado, mas tradicionalmente as esposas dos presidentes assumiram uma postura institucional voltada para ações sociais, muitas vezes liderando programas que beneficiavam as camadas mais vulneráveis da sociedade. Figuras como Sarah Kubitschek, Ruth Cardoso e a própria Darcy Vargas seguiram essa tradição, fortalecendo a imagem da primeira-dama como uma figura de apoio e não como uma protagonista política. Janja, ao contrário, rompe com essa tradição ao tentar exercer uma influência direta sobre o governo, gerando desconforto até mesmo entre aliados.

Outro ponto que gera suspeitas sobre a decisão de Paulo Gonet é o contexto em que ela foi tomada. O arquivamento da ação contra Janja ocorreu poucos dias após a denúncia do próprio PGR contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas, sob a acusação de tentativa de golpe de Estado. Uma narrativa que não se sustenta por nenhum aspecto. Para os críticos, essa sequência de decisões reforça a percepção de seletividade dentro da Procuradoria-Geral da República, que parece empenhada em perseguir adversários políticos enquanto protege aliados do atual governo.

Paulo Gonet tem o direito de agir como o "engavetador-geral da República", mas suas decisões precisam ser coerentes e sem comparações descabidas. Ao colocar Janja e Darcy Vargas no mesmo patamar, ele não apenas reescreve a história de forma desonesta, mas também desrespeita o legado de uma das primeiras-damas mais importantes do Brasil. Darcy Vargas será sempre lembrada pelo seu trabalho e pelo impacto positivo que causou na sociedade. Janja, por sua vez, ainda precisa entender que a função de primeira-dama não é um cargo político e que protagonismo excessivo nem sempre significa reconhecimento histórico.

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