Evacuar uma vez por dia é, para muitos, sinônimo de normalidade. Mas, ao contrário do senso comum, a ciência mostra que a frequência do número dois varia bastante entre as pessoas — e pode ser um forte indicativo da saúde intestinal. Um estudo clássico conduzido pelo médico Ken Heaton, no Reino Unido, revelou que menos da metade da população tem um padrão convencional de evacuação. Enquanto alguns vão ao banheiro três vezes por dia, outros evacuam menos de uma vez por semana — e ambos os casos podem ser considerados normais, dependendo do organismo.
A ciência intestinal avançou muito desde então. Hoje, pesquisadores apontam que ir ao banheiro de uma a três vezes por dia está associado a um microbioma intestinal mais saudável. Um estudo recente liderado pelo microbiologista Sean Gibbons, nos Estados Unidos, mostrou que pessoas com esse padrão de evacuação possuem mais bactérias benéficas no intestino e menores níveis de toxinas no sangue. Por outro lado, evacuações muito infrequentes podem estar ligadas a doenças como Alzheimer, problemas renais e cardiovasculares.
Além da frequência, a consistência das fezes também é um sinal importante. A Escala de Bristol, criada por Heaton, classifica os tipos de fezes com base na forma, umidade e textura, auxiliando médicos no diagnóstico de distúrbios digestivos. Segundo os especialistas, o tipo considerado ideal tem formato de salsicha ou cobra, com superfície lisa ou levemente rachada. Evacuações moles ou muito duras podem indicar desequilíbrios alimentares, inflamações ou doenças intestinais.
Outro indicador relevante da saúde digestiva é o tempo de trânsito intestinal — ou seja, quanto tempo o alimento leva para ser expelido após ser consumido. Estudos recentes, como o Predict1 do King’s College de Londres, demonstraram que pessoas com trânsito intestinal mais rápido tendem a ter menor gordura visceral e uma resposta metabólica mais saudável após as refeições. Já quem leva mais de 58 horas para eliminar os alimentos pode ter mais bactérias prejudiciais no intestino e risco elevado de doenças crônicas.
Por fim, embora ainda faltem evidências definitivas sobre a relação direta entre evacuação irregular e câncer intestinal, especialistas alertam para os riscos associados à prisão de ventre crônica. A lentidão do trânsito intestinal pode favorecer a formação de cálculos na vesícula, pólipos no intestino e até sinalizar doenças neurológicas precoces, como Parkinson. Cuidar do hábito intestinal, portanto, vai muito além do conforto — pode ser uma ferramenta valiosa para prevenir problemas sérios de saúde.
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