Já se foi o tempo em que profissionais da administração pública dominavam pelo menos as operações matemáticas básicas. O que antes era exigência mínima, hoje parece luxo em alguns órgãos do governo. Dois erros grotescos chamaram a atenção recentemente e levantam dúvidas sobre a capacidade – ou a intenção – da máquina pública de evitar desperdício de dinheiro.
O primeiro caso ocorreu no ano passado, quando um erro de digitação fez com que um contrato da Construtora Otima (genuinamente piaueinse) com a Superintendência Regional do DNIT no Piauí fosse registrado no Portal da Transparência como R$ 8,9 bilhões, quando o valor real era R$ 79,6 milhões. Agora, um novo escândalo: a Advocacia-Geral da União (AGU) publicou um contrato prevendo R$ 518 mil para a manutenção de um único carro oficial, um Caoa Cherry Tiggo 8.
A justificativa para ambos os casos? "Erro administrativo". Mas será que esses equívocos são realmente acidentais ou fazem parte de um padrão de descuido que pode esconder algo mais sério?
Na última sexta-feira (7), foi revelado que a AGU pretendia gastar R$ 518 mil para manter um único veículo oficial por um ano. O erro, publicado no Diário Oficial da União, só foi corrigido após denúncia da mídia. Segundo a AGU, o valor correto seria de R$ 43 mil, incluindo revisões e possíveis consertos.
Curiosamente, a mesma empresa contratada, Yellow Mountain Distribuidora de Veículos Ltda, assinou um contrato de apenas R$ 1.069 com o Conselho Regional de Corretores de Imóveis para manutenção de um veículo semelhante por 24 meses.
Para piorar, o carro, registrado em nome do Ministério da Justiça e Segurança Pública, tem valor de mercado de R$ 148 mil, ou seja, o contrato original previa gastar três vezes o valor do próprio veículo com manutenção.
Esses "erros administrativos" só são identificados depois de serem expostos pela imprensa. O governo federal tem falhado em corrigir os problemas internamente antes que se tornem escândalos públicos. A pergunta que fica é: quantos outros contratos com valores inflacionados podem estar passando despercebidos?
Quem garante que não há serviços superfaturados ou até inexistentes sendo pagos com dinheiro público? Como confiar na gestão de recursos se erros desse porte continuam acontecendo?
A Advocacia-Geral da União, sob comando de Jorge Messias, tornou-se uma peça-chave do governo Lula, utilizada para fins políticos, conforme apontado pela revista Crusoé. Messias, que ganhou notoriedade em 2016 ao tentar viabilizar a posse de Lula como ministro de Dilma Rousseff, agora lidera um órgão que tem se envolvido em polêmicas e questionamentos sobre sua independência e transparência.
O episódio da manutenção superfaturada reforça a percepção de que a AGU está mais preocupada em proteger o governo do que em garantir uma administração eficiente e responsável do dinheiro público.
Os casos recentes mostram um padrão preocupante. Se há tantos "erros administrativos", quantos outros podem estar ocorrendo sem serem descobertos? Será mesmo apenas descuido ou estamos diante de uma estratégia para inflacionar gastos públicos e desviar recursos?
O governo precisa responder: quem está checando os números antes de publicar? Por que erros tão grotescos continuam acontecendo? O cidadão merece explicações – e, principalmente, transparência.
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