A Síria enfrenta um dos episódios mais sangrentos desde o início da guerra civil em 2011. Em apenas três dias, os confrontos entre forças do governo interino e militantes leais ao ex-ditador Bashar al-Assad já resultaram em mais de mil mortes. O massacre atinge especialmente civis da minoria alauíta, grupo ao qual pertence o ex-governante.
Os combates começaram na última quinta-feira, quando apoiadores de Assad atacaram forças de segurança sírias na cidade de Jablé, província de Latakia, localizada no oeste do país. A região é historicamente um reduto da comunidade muçulmana alauíta, da qual o clã Assad faz parte.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), organização sediada em Londres com uma ampla rede de informantes no país, relatou que pelo menos 750 civis, incluindo mulheres e crianças, foram mortos. O número de combatentes mortos também é elevado, com estimativas de 125 baixas entre as forças do governo interino e 148 entre os rebeldes pró-Assad. No entanto, o OSDH alerta que esses números podem ser ainda maiores.
O governo interino, liderado pelo presidente Ahmed al-Sharaa, declarou no sábado que a ordem foi restabelecida no noroeste do país após os confrontos. Em um pronunciamento oficial, Sharaa pediu "unidade nacional" para conter a violência e evitar novas tragédias.
As forças de segurança sírias realizaram operações na região para capturar militantes leais a Assad. Segundo a agência de notícias estatal Sana, tropas foram enviadas a Latakia, Jablé e Baniyas para estabilizar a situação e evitar novos ataques.
A violência tem gerado grande temor entre os civis. Relatos indicam que casas foram invadidas e saqueadas, enquanto execuções sumárias foram realizadas por motivos confessionais. A Cruz Vermelha Internacional pediu acesso seguro à região para oferecer assistência médica e humanitária às vítimas.
Moradores locais descreveram cenas de terror. Um homem identificado como Samir Haidar, de 67 anos, afirmou ter perdido dois irmãos e uma sobrinha durante ataques de grupos armados. "Consegui escapar, mas se tivesse demorado cinco minutos a mais, também teria sido morto", relatou.
A nova onda de violência destaca a complexidade das alianças na Síria pós-Assad. O governo interino, formado por forças de oposição ao antigo regime, tem o apoio de grupos islâmicos que lideraram a revolta. No entanto, analistas alertam que muitas dessas facções possuem ideologias extremistas, o que levanta preocupações sobre o futuro do país.
Enquanto isso, militantes pró-Assad ainda resistem, principalmente na região costeira, onde a minoria alauíta tem forte presença. Potências ocidentais acompanham a situação com apreensão, enquanto a França já condenou os massacres cometidos contra civis.
A situação na Síria permanece volátil, e o novo governo enfrenta desafios significativos para estabilizar o país após anos de guerra e repressão.
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