O escândalo envolvendo a chamada "ONG das Quentinhas" colocou o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) no centro de uma disputa acirrada entre o governo e partidos do Centrão. O caso, revelado pelo jornal O Globo, expôs um contrato milionário de R$ 5,6 milhões, supostamente fraudulento, para o fornecimento de refeições a populações vulneráveis. Com a repercussão, o ministro Wellington Dias (PT) passou a ser alvo de forte pressão, tanto da oposição quanto de aliados do governo, que veem na crise uma oportunidade de reivindicar mais espaço na Esplanada dos Ministérios.
A situação do ministro é delicada. Com o Centrão de olho no comando do MDS, cresce a especulação de que ele pode ser substituído para conter a crise. No entanto, ainda não está claro se ele está de fato em "fritura" ou apenas sendo mantido em "banho-maria", enquanto o governo avalia o impacto político do escândalo.
A suspensão do contrato não foi suficiente para estancar a crise, e o avanço de uma possível CPI para investigar contratos do governo com ONGs pode selar o destino de Wellington Dias. O histórico mostra que, em casos semelhantes, quando há forte repercussão, o governo tende a abrir mão de ministros desgastados para preservar sua base política.
Até agora, o ministro tem evitado declarações contundentes sobre o caso. As perguntas que ecoam são: quando ele tomou conhecimento do esquema? Por que não houve fiscalização rigorosa? Ele pretende se manifestar ou manterá silêncio diante das acusações?
A falta de respostas claras só aumenta a pressão para sua saída. Se a CPI for instalada, Dias será convocado a explicar por que uma ONG ligada a petistas recebeu recursos sem prestar devidamente o serviço contratado.
O escândalo acirrou a disputa na Esplanada. Partidos do Centrão, que compõem a base do governo, há tempos tentam assumir o MDS, mas esbarram na resistência do PT, que vê na pasta um dos principais instrumentos de sua agenda social. Com a crise, o governo pode ser forçado a negociar.
Além disso, o caso das quentinhas surge em um momento complicado para Lula, que enfrenta queda de popularidade, aumento da inflação e dificuldades na articulação política no Congresso. Trocar o comando do MDS poderia ser um gesto para apaziguar aliados e reduzir o desgaste.
A oposição vê no caso a chance de abrir uma CPI para investigar os contratos do governo federal com ONGs, especialmente aquelas que prestam serviços em ministérios comandados pelo PT. Se avançar, a CPI pode revelar um esquema maior de repasses suspeitos, criando uma crise política de longo alcance.
Nos bastidores, cresce a especulação de que Flávio Dino, ministro do STF, estaria se movendo independentemente do governo. Embora não haja provas de que a investigação sobre a ONG tenha partido da Polícia Federal sob sua orientação, a leitura política é de que ele não tem agido para blindar o governo. Isso pode significar um afastamento estratégico ou uma tentativa de preservar sua própria imagem diante dos escândalos.
O futuro de Wellington Dias no governo dependerá dos desdobramentos das investigações e da pressão política. Se Lula considerar que sua permanência se tornou insustentável, a troca no comando do MDS pode ser questão de tempo.
O que está claro é que o caso das quentinhas não será abafado facilmente, e sua repercussão pode abalar ainda mais um governo já pressionado por desafios econômicos e políticos.
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