O relógio marcava 17h quando as primeiras filas começaram a se formar nos postos de combustíveis de Teresina. Em poucos minutos, a cena tomou conta da cidade: motoristas impacientes, buzinas ecoando e um clima de revolta no ar. O motivo? O aumento no preço da gasolina e do diesel, que entra em vigor a partir deste sábado, 1º de fevereiro.
Para quem viveu os anos de hiperinflação no Brasil, a imagem remete a um passado sombrio. Era assim nos tempos de José Sarney e Fernando Collor: o povo correndo contra o tempo para abastecer antes que os preços disparassem de um dia para o outro. Na época, o dinheiro perdia valor como areia escorrendo pelos dedos, e o brasileiro vivia com a sensação de estar sempre um passo atrás da inflação. Agora, décadas depois, a cena se repete. Que hilário, justo agora, no governo Lula III!
José Francisco de Andrade Abreu, bancário, resumia a frustração geral enquanto aguardava na fila. "Cada um se defende como pode das trapalhadas do governo", disparou. Já o comerciário Sebastião Rodrigues da Silva, que acreditou na promessa de Lula de "abrasileirar" o preço dos combustíveis, não escondeu a indignação: "O que ele entrega é isso, aumento no preço da gasolina. Mais uma mentira".
Se para os motoristas comuns o impacto é imediato, para os empresários e caminhoneiros, o temor é ainda maior. O comerciante Luis Pereira da Silva, dono de um mercadinho no Vale do Gavião, destacou um efeito em cadeia que parece ignorado pelo governo: "Será que eles não entendem que o aumento do diesel vai elevar ainda mais a inflação? A economia funciona como uma corrente: sobe o diesel, sobe tudo".
O reajuste não vem apenas da Petrobras. Além do aumento de R$ 0,22 por litro no diesel A, imposto pela estatal, há também a alta no ICMS, acertada pelos governadores em outubro passado. O tributo estadual passará a adicionar mais R$ 0,10 no litro da gasolina e R$ 0,06 no diesel. O modelo de cobrança do imposto foi alterado ainda no governo Bolsonaro e prevê reajustes anuais, negociados pelo Confaz, o conselho que reúne os secretários de Fazenda dos estados.
Teresina é uma cidade politizada. O teresinense sabe que a dobradinha entre o governador Rafael Fonteles e os deputados estaduais garantiu a elevação da alíquota do ICMS. "Nós não temos Assembleia Legislativa. Aquilo há muito tempo deixou de ser a casa do povo. O que se vê lá é um balcão de negócios do tipo pagou levou", desabafou o servidor público federal Hiran Coelho Rezende.
Diante desse cenário, o governo Lula tenta se esquivar. O presidente foi alertado sobre o aumento, mas afirmou que "não autoriza reajustes", jogando a responsabilidade para a Petrobras. O discurso, porém, não convence mais a população, que sente no bolso os efeitos de uma política econômica confusa e sem rumo.
O Brasil já viu esse filme antes. O que começou com filas nos postos, nos anos 1980 e 1990, logo se espalhou para os supermercados e para o bolso dos trabalhadores. A inflação, que parecia sob controle, voltou a assombrar o país. A inflação está a espreita. Basta ir às compras. E o brasileiro, como sempre, é quem paga a conta.
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