No coração da floresta amazônica, uma das maiores riquezas minerais do Brasil pulsa sob o solo paraense: 1,6 bilhão de toneladas de bauxita, o minério-chave na produção de alumínio. A colossal jazida localizada em Porto Trombetas, no oeste do Pará, é mais do que uma reserva estratégica - é um trunfo geopolítico, ambiental e econômico.
Mas o que, afinal, é a bauxita?
Trata-se da principal fonte de óxido de alumínio (Al₂O₃), essencial na fabricação do alumínio metálico. A bauxita de Porto Trombetas é rica em gibbsita, que facilita o processamento por meio do método Bayer, amplamente usado na indústria global.
A história remonta aos anos 1960, quando a subsidiária canadense Aluminas, da Alcan, iniciou prospecções sob orientação do geólogo Johan Staargaard. Em 1963, foi detectada a presença de bauxita de alta qualidade nas margens do Rio Trombetas. Já em 1967, os estudos liderados por Igor Mousasticoshvily confirmaram a magnitude da reserva nos platôs do Saracá.
Hoje, essa gigantesca jazida é explorada pela Mineração Rio do Norte (MRN) - maior produtora de bauxita do Brasil. A empresa iniciou operações comerciais em 1979 e, desde então, transformou a dinâmica econômica de toda a região.
Com 12,8 milhões de toneladas produzidas em 2024, a MRN responde por quase 40% da produção nacional. Os principais mercados consumidores incluem Estados Unidos, Europa e Ásia, além da refinaria brasileira Alunorte, que abastece o mercado doméstico.
A mineração da bauxita em Porto Trombetas já rende bilhões de reais em impostos e taxas, além de empregos e desenvolvimento regional. Em 2024:
Foram mais de R$ 700 milhões em compras locais;
6.700 empregos gerados, 85% de paraenses;
R$ 56,8 milhões em CFEM e R$ 240 milhões em tributos.
Nem tanto. A continuidade da exploração depende do avanço do Projeto Novas Minas (PNM), que visa garantir mais 15 a 20 anos de operação em cinco novos platôs. O projeto já obteve Licença Prévia em 2024, mas ainda precisa superar desafios ambientais, licenças definitivas e resistência de ONGs e comunidades locais.
A MRN, no entanto, tem buscado se destacar pela responsabilidade socioambiental. Entre os esforços estão:
Certificação ISO 14001;
Recuperação do Lago Batata, antes impactado por rejeitos;
Apoio ao projeto Pé-de-Pincha, de conservação de quelônios;
R$ 42,2 milhões investidos em programas sociais em 2024.
A estrutura societária da MRN inclui gigantes globais da mineração, como Vale, Rio Tinto Alcan, BHP-Billiton, Alcoa e CBA. Ou seja, apesar de a operação ser em solo brasileiro, boa parte dos lucros é compartilhada com empresas estrangeiras.
Ainda assim, a operação representa uma fonte crescente de divisas para o Brasil, tanto pela exportação de bauxita quanto pela cadeia de valor do alumínio. Em um cenário de aumento global da demanda por alumínio, impulsionado pela transição energética e mobilidade elétrica, a descoberta consolida o país como potência mineral estratégica.
Com uma reserva que beira o incalculável, o Brasil está diante de uma oportunidade histórica. A bauxita de Porto Trombetas pode render bilhões ao país, fomentar o desenvolvimento da Amazônia e reposicionar o Brasil como um player indispensável na geopolítica dos minerais estratégicos. Mas para isso, será necessário equilibrar crescimento com preservação - e garantir que essa riqueza nacional não seja apenas mais uma promessa enterrada sob a floresta.
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