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Refúgio diplomático e conexões com o poder: quem é Nadine Heredia, ex-primeira-dama do Peru acolhida pelo governo Lula

Condenada por lavagem de dinheiro em escândalo que envolve Odebrecht e Hugo Chávez, Nadine Heredia buscou proteção na embaixada brasileira em Lima e agora aguarda decisão sobre pedido de refúgio no Brasil. Caso expõe os vínculos entre corrupção transnacional, governos de esquerda na América Latina e o papel do Brasil na geopolítica regional

17/04/2025 às 09h50 Atualizada em 17/04/2025 às 09h54
Por: Douglas Ferreira
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A relação de Lula com os ex-mandatários do Peru condenados por corrupção é antiga - Foto: Reprodução
A relação de Lula com os ex-mandatários do Peru condenados por corrupção é antiga - Foto: Reprodução

A chegada de Nadine Heredia ao Brasil nesta semana reabriu uma série de debates sobre o uso do refúgio diplomático, a seletividade política do asilo e as ramificações do maior escândalo de corrupção da América Latina, que ainda ecoa nos bastidores do poder. Ex-primeira-dama do Peru e esposa do ex-presidente Ollanta Humala (2011–2016), Nadine desembarcou em São Paulo após ser acolhida pela Embaixada do Brasil em Lima, menos de 24 horas depois de ser condenada pela Justiça peruana a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro.

Quem é Nadine Heredia?

Nascida em uma família rica, com formação internacional e passagem por organismos como a USAID, Nadine Heredia foi muito mais que a esposa de um presidente: fundadora do Partido Nacionalista Peruano, ela se tornou figura central do governo Humala, assumindo um protagonismo político que incomodou opositores e aliados. Sua influência no governo era tamanha que era tratada por setores da imprensa peruana como uma espécie de “copresidenta”.

Por que está refugiada no Brasil?

Heredia se refugiou na Embaixada do Brasil em Lima na terça-feira (15), imediatamente após a leitura de sua sentença judicial. A Justiça do Peru a condenou por receber dinheiro de forma ilícita para financiar a campanha presidencial do marido em 2011, por meio de repasses milionários da construtora Odebrecht e do governo de Hugo Chávez, na Venezuela.

O governo Lula concedeu a ela e ao filho de 14 anos o asilo diplomático, com base na alegação de perseguição política e em um pedido humanitário devido a um suposto tratamento contra o câncer. A decisão foi criticada por setores do Peru, que veem um claro favorecimento político e possível obstrução da Justiça peruana.

Quais crimes são atribuídos a ela?

Nadine Heredia foi condenada por lavagem de dinheiro. Segundo a acusação, ela teria participado diretamente da operação de ocultação de origem de valores ilegais usados para bancar a campanha de Humala. O dinheiro veio, segundo a investigação, de dois canais: propinas da Odebrecht (rebatizada de Novonor) e fundos desviados da Venezuela chavista.

Documentos, delações e movimentações bancárias rastreadas pela Lava Jato e pelas autoridades peruanas sustentam a acusação. Ainda assim, Heredia permaneceu em liberdade até a sentença final — da qual fugiu no mesmo dia.

E Ollanta Humala?

O ex-presidente também foi condenado no mesmo processo. Como militar aposentado e ex-chefe de Estado, foi levado para uma unidade policial especial em Lima, destinada a ex-mandatários — um clube que inclui outros três ex-presidentes presos: Pedro Castillo, Alejandro Toledo e Alberto Fujimori (libertado em 2023).

Humala cumpre pena, mas a situação de sua esposa expõe mais profundamente os conflitos diplomáticos entre os poderes judiciários e os governos da região, sobretudo quando há alinhamento ideológico.

Qual a conexão com o Brasil e o governo Lula?

A conexão é dupla: política e jurídica. Do ponto de vista jurídico, o nome de Nadine aparece em investigações derivadas da Lava Jato, a operação brasileira que desnudou o esquema de propinas da Odebrecht em diversos países da América Latina. O Brasil, portanto, está no cerne do escândalo que derrubou líderes políticos no continente.

Do ponto de vista político, a aproximação entre os governos Lula e Humala remonta à década passada. Ambos participaram da onda de governos de esquerda que se fortaleceram por meio de alianças continentais, como o Unasul. Nadine era vista com simpatia pelos petistas e chegou a participar de eventos no Brasil, como fóruns progressistas.

A decisão do governo Lula de conceder abrigo à ex-primeira-dama levanta suspeitas sobre proteção política, uma vez que se trata de uma condenada por corrupção com laços comprovados com o escândalo Odebrecht — empresa que também financiou campanhas no Brasil.

Quanto tempo Nadine pode ficar no Brasil?

Inicialmente, Nadine e o filho receberam um registro provisório da Polícia Federal. Agora, aguardam o julgamento do pedido de refúgio pelo Conare (Comitê Nacional para os Refugiados). Se aprovado, ela poderá permanecer no Brasil como refugiada — por tempo indeterminado, desde que mantenha o status de “perseguida política” e o país não revogue o benefício.

Na prática, a ex-primeira-dama poderá viver no Brasil por anos — ou ad eternum — caso a Justiça brasileira ou o governo federal decida mantê-la sob proteção.

Um caso emblemático

A concessão de asilo diplomático a uma figura central em um dos maiores esquemas de corrupção transnacional já revelados não é apenas um gesto humanitário — é uma decisão política com repercussões bilaterais. O Peru se vê mais uma vez desafiado em sua tentativa de punir os poderosos, enquanto o Brasil reabre o debate sobre seletividade no acolhimento de “refugiados” com passado marcado por escândalos, conexões perigosas e acusações de desvio de milhões em recursos públicos.

A pergunta que resta é: até onde o Brasil está disposto a ir para proteger seus aliados ditadores e corruptos do passado e do presente?

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A NOTÍCIA E O FATO
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Sobre Douglas Ferreira é multimídia. Além de jornalista, é bacharel em Direito. Foi repórter da TV Clube, afiliada da Rede Globo, por 10 anos e, em Caxias, no Maranhão, apresentou o programa “Fala Caxias”. Fundou e dirigiu por seis anos a Folha do Cocais. Foi secretário de Comunicação da Prefeitura de Caxias e retornou a Teresina como âncora da TV Meio Norte. Por 20 anos, reportou e apresentou na TV Antena 10, afiliada da Record. Também foi assessor de imprensa do Tribunal de Justiça do Piauí e passou por rádios e pelos maiores portais do Estado. Sua vida é o jornalismo. No Sistema Move de Comunicação, foi editor do Portal Move Notícias e apresentador do Business Cast, do canal movetvweb no YouTube. Agora, está à frente do Gazeta Hora1.
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