Quinta, 17 de Abril de 2025
29°

Tempo nublado

Teresina, PI

Política BRASIL X ESPANHA

Crise diplomática: STF suspende extradição de traficante após recusa da Espanha em entregar jornalista

Decisão de Alexandre de Moraes cita falta de reciprocidade após Justiça espanhola negar extradição de Oswaldo Eustáquio, acusado de crimes ligados aos atos de 8 de janeiro

16/04/2025 às 10h52 Atualizada em 16/04/2025 às 11h16
Por: Wagner Albuquerque
Compartilhe:
Imagem representando Alexandre de Moraes e a bandeira da Espanha, gerada por inteligência artificial
Imagem representando Alexandre de Moraes e a bandeira da Espanha, gerada por inteligência artificial

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu na última terça-feira (15) o processo de extradição do cidadão búlgaro Vasil Georgiev Vasilev para a Espanha. Acusado de transportar 52 quilos de cocaína em Barcelona, em 2022, Vasilev teve sua prisão preventiva convertida em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica. A suspensão ocorre após a Justiça espanhola rejeitar o pedido do governo brasileiro para a extradição do jornalista Oswaldo Eustáquio, considerado foragido por responder a processos relacionados aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.

A decisão da Audiência Nacional da Espanha, instância máxima do Judiciário do país, alegou que o pedido brasileiro tinha "evidente motivação política" e poderia violar o tratado bilateral de extradição, que proíbe a entrega de réus em casos de perseguição por razões ideológicas. O tribunal destacou ainda que as decisões do Supremo brasileiro contra Eustáquio estariam inseridas em ações contra apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Apesar do desgaste diplomático, vale destacar que a decisão partiu do Judiciário espanhol, que atua com independência em relação ao governo, característica de países com sólida separação entre os poderes.

O caso também chama atenção pelo contexto político. O atual presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez, é aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de centro-esquerda, Sánchez está no cargo desde 2018 e mantém relação próxima com Lula. Apesar dessa amizade e da afinidade política entre os dois chefes de governo, a extradição foi negada exclusivamente pela Justiça espanhola, o que reforça o princípio de não interferência entre Executivo e Judiciário em democracias consolidadas.

Diante da negativa, Alexandre de Moraes argumentou que a reciprocidade é um princípio fundamental nos pedidos de extradição e, por isso, interrompeu o processo de entrega de Vasilev. O ministro exigiu ainda explicações da embaixada da Espanha no Brasil quanto ao cumprimento do tratado. Caso o país europeu não se manifeste no prazo de cinco dias, o processo será encerrado. O governo brasileiro, por sua vez, já anunciou que recorrerá da decisão por meio da Advocacia-Geral da União, em conjunto com o Ministério da Justiça e o Itamaraty.

O impasse entre Brasil e Espanha reacende o debate sobre a politização de pedidos de extradição e o impacto da diplomacia nas decisões judiciais internacionais. Enquanto o Brasil sustenta que o tratado bilateral foi desrespeitado, a Espanha mantém a posição de que a motivação política invalida a extradição de Eustáquio.

Enquanto um dos envolvidos é um cidadão brasileiro, jornalista, que ao que tudo indica não cometeu crime além de exercer sua liberdade de expressão, o outro é um traficante internacional, condenado por transportar drogas em território europeu. A decisão de Alexandre de Moraes de interromper a extradição de um criminoso condenado em retaliação à negativa da Espanha em entregar Oswaldo Eustáquio evidencia uma postura questionável para um ministro da mais alta Corte do país. Ao adotar medidas com conotação política e retaliatória, Moraes se distancia do papel que se espera de um magistrado da Suprema Corte, cuja função deveria se limitar à análise técnica e imparcial dos autos. Além disso, tal atitude coloca o Brasil em rota de colisão com a Justiça de um país europeu com longa tradição democrática, que respeita a separação entre os poderes e age com base em critérios legais e não políticos.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários