A nomeação de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais veio acompanhada de um comentário do presidente Lula que gerou polêmica: ele justificou a escolha da deputada chamando-a de "mulher bonita", sugerindo que sua presença facilitaria o diálogo com o Congresso.
O que poderia ser apenas uma declaração infeliz acabou levantando um debate mais profundo: por que esse tipo de fala é aceito quando vem da esquerda, mas geraria indignação se partisse da oposição?
A fala do presidente ocorreu em uma cerimônia no Palácio do Planalto, onde Lula enfatizou a necessidade de proximidade com o Congresso. Ao justificar a escolha de Gleisi, ele afirmou:
“Por isso coloquei essa mulher bonita para ser ministra de Relações Institucionais, porque não quero mais ter distância de vocês.”
O que está implícito nessa declaração? Que Gleisi foi escolhida por sua aparência e não por competência? Que sua presença tornará as negociações políticas mais fáceis por ser “agradável aos olhos” dos parlamentares?
A reação nas redes sociais não demorou. O ex-deputado Deltan Dallagnol criticou o comentário, acusando Lula de sexualizar a própria ministra e apontando a hipocrisia da esquerda progressista, que se cala quando as declarações machistas vêm de seus próprios líderes.
Se Bolsonaro ou qualquer outro político da oposição fizesse um comentário semelhante, o escândalo seria instantâneo. Protestos, notas de repúdio e manchetes denunciando a misoginia tomariam conta da mídia. Mas, como foi Lula, a indignação parece ser seletiva.
Independente da polêmica, Gleisi Hoffmann assume um dos postos mais delicados do governo. A função de articulação política exige habilidade para negociar com parlamentares, apaziguar tensões e garantir apoio para projetos do Executivo.
A escolha da ex-presidente do PT também é uma tentativa de reverter o fracasso de Alexandre Padilha, que não conseguiu evitar derrotas importantes no Congresso. O problema é que Gleisi não tem boa aceitação entre os parlamentares, sendo uma das figuras mais rejeitadas da política nacional.
O episódio reabre uma questão já conhecida: o presidente pode dizer o que quiser sem sofrer consequências?
Lula já usou falas controversas sobre mulheres em outras ocasiões. Durante a campanha de 2022, fez uma declaração associando o trabalho doméstico a uma obrigação feminina:
“A gente quer que o nosso companheiro homem, quando a sua companheira trabalha, tenha a dignidade de ir para a cozinha ajudar no serviço da mulher, porque assim ele vai ser parceiro.”
Além disso, há casos dentro do próprio governo que foram convenientemente abafados. O ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, enfrentou denúncias de assédio, mas o caso não ganhou grande repercussão. O mesmo aconteceu com acusações contra um dos filhos de Lula, que foram praticamente ignoradas pela mídia.
O discurso feminista do PT parece valer apenas quando convém. A fala de Lula sobre Gleisi Hoffmann foi redutora e desrespeitosa, mas o silêncio das feministas governistas mostra que a militância tem dois pesos e duas medidas.
Se a nomeação da nova ministra é baseada apenas na sua "beleza", o que isso diz sobre o compromisso do governo com a meritocracia e a competência? E se as mesmas feministas que criticam a misoginia na direita continuam passando pano para Lula, que tipo de causa elas realmente defendem?
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