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Cultura IGNORÂNCIA HISTÓRICA

A injusta decapitação de Dom Pedro II no Carnaval: ignorância histórica ou sensacionalismo barato?

Acadêmicos do Tucuruvi mancha o legado do imperador mais culto do Brasil ao distorcer sua imagem em uma alegoria sem fundamento histórico

06/03/2025 às 10h14 Atualizada em 06/03/2025 às 10h59
Por: Douglas Ferreira Fonte: Com informações CM7
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A Acadêmicos do Tucuruvi não apresentou apenas desconhecimento da história do Brasil, mas desfilou ignorância no sambódromo do Anhembi - Foto: Reprodução
A Acadêmicos do Tucuruvi não apresentou apenas desconhecimento da história do Brasil, mas desfilou ignorância no sambódromo do Anhembi - Foto: Reprodução

Dom Pedro II: o estadista que amou o Brasil e a ignorância que tentou apagá-lo

O ditado "a ignorância é a mãe de todas as doenças" ressalta que a falta de conhecimento pode gerar erros graves e consequências desastrosas. Sem informação, as pessoas correm o risco de fazer escolhas equivocadas ou tomar decisões prejudiciais, tanto para si mesmas quanto para os outros.

No desfile da madrugada de 2 de março, no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, a escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi apresentou uma alegoria que não apenas chocou, mas sobretudo, indignou ao exibir um guerreiro indígena segurando a cabeça decapitada de Dom Pedro II, último imperador do Brasil. O ato, justificado como homenagem, revelou-se um exemplo gritante de desconhecimento histórico e desrespeito ao legado de um dos maiores estadistas que o Brasil já teve.

Um imperador que fez do Brasil sua missão

Dom Pedro II assumiu o trono em 1840, aos 14 anos, e governou até 1889, conduzindo o Brasil por 49 anos de estabilidade em um continente marcado por turbulências, onde ele conseguiu manter a unidade do povo brasieliro e do território nacional. Diferente de muitos líderes da sua época, ele não se apegou ao poder por vaidade ou interesse pessoal. Pelo contrário, foi um intelectual dedicado, que promoveu a educação, investiu na modernização do país e sempre buscou o progresso social.

Seus feitos incluem:

  • A ampliação da educação, incentivando o surgimento de escolas e academias.

  • O desenvolvimento da infraestrutura, expandindo ferrovias e redes de comunicação.

  • O apoio à ciência e à cultura, tornando-se um mecenas do conhecimento.

  • O compromisso com a abolição da escravatura, contribuindo diretamente para o fim da escravidão em 1888.

O imperador que respeitou os povos indígenas

Diferente da narrativa apresentada pela escola de samba, Dom Pedro II foi o único chefe de Estado brasileiro que aprendeu a língua tupi e valorizou a cultura dos povos originários. Seu respeito pelas nações indígenas era um reflexo de sua visão ampla e humanista, algo raro entre os líderes do século XIX. Associá-lo à perda do manto tupinambá, um artefato levado por colonizadores europeus muito antes de seu reinado, é uma distorção que revela uma compreensão rasa da história brasileira.

Golpe republicano e exílio: um fim injusto para um líder amado

A deposição de Dom Pedro II em 1889 não foi resultado de rejeição popular, mas sim de um golpe orquestrado por uma elite republicana que via nele um obstáculo para seus interesses. Mesmo exilado, jamais deixou de amar o Brasil. Morreu em Paris, em 1891, com saudades de sua pátria, sem jamais conspirar contra aqueles que o haviam destituído.

Brasil: A Última Cruzada

A Brasil Paralelo apresenta a Proclamação da República em 1889 como um golpe resultante da erosão do apoio político à monarquia. A produção destaca que a queda do império foi impulsionada pelo descontentamento militar, agravado pela abolição da escravidão sem indenização aos proprietários e pela estagnação de promoções e reajustes salariais para oficiais.

Segundo essa visão histórica confirmada por historiadores, a insatisfação das forças armadas com Dom Pedro II, somada à perda de respaldo entre as elites, criou o ambiente propício para a conspiração republicana. Assim, o golpe não teria sido um movimento popular, mas sim uma ação de grupos influentes que viam na mudança de regime uma oportunidade para atender seus próprios interesses.

A ignorância que transforma heróis em vilões

O Carnaval é um palco de criatividade e crítica social, mas a representação da Tucuruvi ultrapassou os limites da arte e caiu no desrespeito. O enredo sobre a devolução do manto tupinambá poderia ter sido uma oportunidade valiosa para exaltar a resiliência dos povos indígenas. No entanto, ao optar por representar Dom Pedro II como um vilão, a escola perpetuou um revisionismo histórico sem fundamento.

O historiador Edmilson Cruz sintetizou a questão com precisão: “No Brasil não há história real, não há fontes, somente ideologia”. A escolha da Tucuruvi reflete essa tendência perigosa, onde a verdade é sacrificada por uma narrativa distorcida.

O Carnaval deve elevar o debate, não rebaixá-lo

Dom Pedro II foi um líder que olhou para o futuro, investiu na educação e deixou um legado inegável de progresso. Reduzi-lo a uma cabeça cortada em uma alegoria mal concebida é um reflexo da falta de preparo de quem deveria contar a história do Brasil com respeito e conhecimento.

Que os próximos desfiles tragam luz ao passado, em vez de sombras de desinformação. A memória de Dom Pedro II e a verdadeira história do Brasil merecem mais do que isso.

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A NOTÍCIA E O FATO
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Sobre Douglas Ferreira é multimídia. Além de jornalista, é bacharel em Direito. Foi repórter da TV Clube, afiliada da Rede Globo, por 10 anos e, em Caxias, no Maranhão, apresentou o programa “Fala Caxias”. Fundou e dirigiu por seis anos a Folha do Cocais. Foi secretário de Comunicação da Prefeitura de Caxias e retornou a Teresina como âncora da TV Meio Norte. Por 20 anos, reportou e apresentou na TV Antena 10, afiliada da Record. Também foi assessor de imprensa do Tribunal de Justiça do Piauí e passou por rádios e pelos maiores portais do Estado. Sua vida é o jornalismo. No Sistema Move de Comunicação, foi editor do Portal Move Notícias e apresentador do Business Cast, do canal movetvweb no YouTube. Agora, está à frente do Gazeta Hora1.
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