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Brasil MIGRAÇÃO INTERNA

São Paulo perde protagonismo e Santa Catarina assume: mudança de destino ou fracasso anunciado?

Pela 1ª vez desde 1991, SP tem saldo migratório negativo e SC se torna o novo polo dos migrantes. Mais que um dado estatístico, um alerta para um Brasil que muda - e para quem não souber mudar junto

03/07/2025 às 10h39
Por: Douglas Ferreira
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Floripa superou São Paulo e é o Estado queridinho do migrante - Foto: Reprodução
Floripa superou São Paulo e é o Estado queridinho do migrante - Foto: Reprodução

Os números do Censo 2022 revelaram um choque para quem ainda vê São Paulo como a “terra das oportunidades”. Pela primeira vez em mais de 30 anos, o maior estado do país registrou saldo migratório negativo: quase 90 mil pessoas deixaram SP entre 2017 e 2022, em vez de chegar. No mesmo período, Santa Catarina recebeu mais migrantes do que qualquer outro estado, liderando o saldo positivo no Brasil.

O que está por trás dessa inversão histórica? Uma pergunta incômoda: SP deixou de ser atrativo ou SC se tornou irresistível? A resposta é dura para os paulistas: as duas coisas.

Culpa do custo de vida - e do descaso social

São Paulo continua sendo um gigante econômico, mas a que preço? Moradia inacessível, transporte caro, violência em alta nas periferias e um mercado de trabalho saturado e hostil para quem não chega com alta qualificação. Um trabalhador de classe média baixa chega, trabalha, paga, se aperta e não vê perspectivas. É natural que olhe para outros horizontes.

Enquanto isso, Santa Catarina vem colhendo frutos de anos de crescimento industrial, logística eficiente, cidades bem-cuidadas, praias, serra, segurança pública que funciona e um custo de vida menos sufocante. Cidades como Joinville, Blumenau e Florianópolis oferecem o que São Paulo há muito deixou de oferecer: qualidade de vida compatível com o que se ganha.

Arte: Reprodução

O imã catarinense: modelo de futuro?

É claro que SC não é um paraíso sem problemas. O crescimento rápido pressiona o mercado imobiliário, o trânsito já engarrafa, a desigualdade começa a aparecer. Mas o Estado tem mostrado mais capacidade de planejamento urbano e social do que o Sudeste inchado e inerte. Não à toa, o migrante que chega a SC costuma ter nível médio de escolaridade, alguma qualificação e disposição para ocupar vagas na indústria, logística e serviços. Ou seja: não é peso morto para o Estado - é força produtiva.

Essa diferença importa. E alerta para o risco de SP perder, não apenas pessoas, mas também talentos e capital humano, que se mudam com suas famílias, seus sonhos e seus impostos.

Mais que um dado: um sinal de esgotamento

A liderança catarinense no saldo migratório não é só vitória do Sul. É o espelho do fracasso paulista em manter suas promessas históricas. É sintoma de uma metrópole exausta, de um Estado que se acomoda em sua hegemonia econômica enquanto a periferia social derrete.

E não pensem que o fenômeno vai parar. A decisão de um migrante é silenciosa e solitária: ele não faz protesto nem greve. Ele simplesmente vai embora. E quando isso acontece em escala, a mensagem é brutal: o lugar que antes prometia futuro já não entrega.

Provocação final: SP vai acordar ou continuar perdendo?

Santa Catarina fez a lição de casa e agora colhe os frutos. São Paulo precisa, urgentemente, repensar o modelo de cidade e Estado que oferece aos seus cidadãos. Sem políticas habitacionais, mobilidade acessível, segurança e mercado mais aberto a novas oportunidades, continuará perdendo pessoas - e relevância.

Enquanto isso, cabe a SC não se iludir. O crescimento populacional precisa ser bem gerido para que não repita, amanhã, os erros do Sudeste.

O Brasil está mudando de eixo. Essa pode ser uma ótima notícia para o Sul - e um aviso perigoso para quem acha que basta ser grande para permanecer gigante.

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