No Piauí, o empreendedor que não tem amigos no palácio do rei enfrenta impostos abusivos, concorrência desleal e a ação de um Estado que mais atrapalha do que ajuda. Empreender no Brasil sempre foi um ato de coragem. Uma atividade de altíssimo risco. Mas empreender no Piauí é quase um ato de heroísmo.
O país já carrega um dado alarmante: cerca de 50% das empresas fecham as portas antes de completarem dois anos de atividade. É como jogar uma moeda para o alto — ou pior, participar de uma roleta-russa em que o gatilho fiscal, jurídico e burocrático quase sempre dispara contra quem tenta gerar emprego, pagar impostos e construir alguma prosperidade. No Piauí, esse jogo é ainda mais injusto.
Enquanto nosso vizinho Ceará avança com políticas públicas que favorecem o desenvolvimento produtivo, com regras claras e estímulo republicano ao ambiente de negócios, o Piauí insiste em carregar o fardo de um modelo que mais suga do que incentiva. O comércio agoniza. As indústrias mal resistem e, ao longo dos últimos 20 anos, diminuíram drasticamente sua participação na formação do nosso PIB. As pequenas empresas, principalmente, sofrem em silêncio, esmagadas por uma concorrência desleal vinda da Ásia — onde regras trabalhistas, ambientais e tributárias praticamente não existem — e, pasmem, por um sistema tributário local que pune o esforço e premia o apadrinhamento.
Aqui, o governo cobra o segundo maior ICMS do Brasil. Sim, você leu certo. O Piauí, um dos estados mais pobres da Federação, cobra um dos impostos mais altos do país. Qual a lógica? Nenhuma. Qual o efeito? Desastroso. Esse imposto afeta 100% da população. Penaliza tanto quem compra quanto quem vende. Desestimula o consumo e inviabiliza a competitividade. Um verdadeiro massacre para quem produz — e uma piada de mau gosto para quem ainda ousa acreditar no discurso oficial de desenvolvimento.
Mas a tragédia não para por aí. No Piauí, a livre iniciativa virou lenda urbana. O empresário comum — aquele que levanta cedo, paga impostos, cumpre leis e enfrenta a burocracia — disputa mercado com os “amigos do rei”. Aqueles que, por alguma razão mágica ou política, dispensam licitações, ignoram exigências legais, recebem isenções e transitam nos bastidores do poder com status de intocáveis.
A desigualdade empresarial não é apenas econômica. É moral. É institucional. O empresariado não quer privilégios. Quer apenas igualdade de condições. Quer a liberdade de competir. De existir. Quer um Estado que não seja um sócio oculto, que aparece apenas para cobrar, travar ou multar. Quer um Estado que, se não puder ajudar, ao menos não atrapalhe.
A manutenção desse cenário coloca o país no caminho de nações como a Venezuela — tanto na insegurança jurídica quanto no desempenho econômico. E o Piauí, sócio majoritário da pobreza nacional, será um dos primeiros a quebrar.
Em vez disso, o que se vê é uma máquina pública lenta, inchada e insensível. Uma burocracia paralisante que, sob o pretexto de “proteger o interesse coletivo”, apenas justifica os salários e mordomias de uma elite administrativa sustentada pelo suor do contribuinte. Um sistema onde o mérito empresarial vale menos do que o QI — o famigerado “Quem Indica”.
Recentemente, um diretor de uma empresa nacional confidenciou que seu pior desempenho no Nordeste vem do Ceará. Mas o motivo foi revelador:
“Lá, as regras tributárias protegem as empresas locais.”
Não se trata de privilégios obscuros, e sim de políticas republicanas, transparentes e aplicáveis a todos os empreendedores que ali queiram investir.
No Ceará, existe Estado. No Piauí, ainda reina o feudo. Uma elite política que se orgulha do atraso, disfarçado de discurso moderninho.
Chegou a hora de jogar luz sobre essa realidade incômoda. O empreendedorismo no Piauí está sob ataque. E quem paga essa conta não é só o empresário. É toda uma sociedade que perde renda, emprego, inovação e, sobretudo, o futuro.
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